Depois de sofrer uma embolia pulmonar, Sheilla foi proibida de fazer uso de anticoncepcionais| Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo

A cada dia, novas informações e novos casos de mulheres que tiveram tromboses, AVCs, embolia pulmonar e outras doenças relacionadas ao uso de anticoncepcionais orais aparecem. Com isso, aumenta também o medo das mulheres na hora de buscar um método contraceptivo que não possa gerar resultados irreversíveis.

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A assessora judiciária Sheilla Cristina Lovato, 30 anos, não bebe, não fuma, não sofre com obesidade. Mesmo assim, foi vítima de uma embolia pulmonar causada pelo uso de anticoncepcionais orais. Depois de dez anos usando pílula, Sheilla começou a se sentir mal um mês antes de ir para o hospital com uma dor que nem o uso de morfina conseguiu aliviar. “Eu mudei de trabalho, estava me sentindo muito ansiosa, com algumas dores do peito e taquicardia. Achava que era normal para o momento que eu estava vivendo e, já tinha procurado uma psicóloga, mas não deu tempo”, contou.

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Depois de passar um dia na cama por conta do cansaço, Sheilla deitou e não conseguiu mais dormir por conta de uma forte dor no abdômen. Achou que era apendicite e correu com o marido para o hospital. Lá, depois de fazer uma tomografia, o técnico que a acompanhava olhou o pulmão e a questionou: “Você toma anticoncepcional?”.

A surpresa foi que os pulmões estavam cheios de coágulos e ela estava sofrendo de embolia pulmonar. Os médicos que a acompanharam foram unânimes em dizer que o anticoncepcional foi o causador do problema. “Até porque ninguém espera ter embolia pulmonar com 30 anos”, disse.

Ela, que já acompanhava casos de outras mulheres que tiveram problemas por conta da pílula, nunca achou que aquilo fosse acontecer com ela, justamente por não fazer parte de nenhum grupo de risco. Hoje, Sheilla foi proibida de tomar qualquer tipo de anticoncepcional, faz tratamento com anticoagulantes e acompanhamento médico.

A lição, para ela, é que se procure atendimento médico no primeiro momento em que os sintomas aparecerem. “No meu caso, o diagnóstico até foi rápido, mas pode acabar sendo tarde demais”, afirmou.

De acordo com o cirurgião vascular do Hospital Marcelino Champagnat, Alexandre Yoshiharu, a embolia pulmonar sofrida por Sheilla é uma evolução de tromboses venosas - ou seja, coágulos formados nas pernas ou na região pélvica que foram transportados até o pulmão. Assim como a paciente, o médico recomenda que as mulheres devem estar atentas a qualquer sintoma e desconforto. “Normalmente começa com um inchaço, ainda antes da dor. É preciso que exista a prevenção e a medicação”, explicou.

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Grupos de risco: você faz parte deles?

De acordo com o ginecologista e obstetra do Hospital Nossa Senhora das Graças, Roaldo Meissner, antes de decidir por uma pílula, há uma série de questionamentos que o médico deve fazer à paciente antes de prescrever um medicamento. Essas perguntas podem apontar ou não se a mulher faz ou não parte do grupo de risco dos anticoncepcionais orais, quando os riscos de problemas de saúde envolvendo as pílulas é maior. Alexandre Yoshiharu, explica que os hormônios presentes nos anticoncepcionais podem provocar congestões venosas - uma espécie de “engarrafamento” do sangue nas veias. “O fluxo sanguíneo é menor e o sangue não flui muito bem por conta disso. Há riscos de trombose nos membros inferiores e na região pélvica”, comentou.

Saiba quais são os grupos em que o risco de trombose é maior:

1.Já teve ou têm casos de mulheres na família com algum tipo de trombofilia?

De acordo com o ginecologista, a relação entre os casos de trombofilias - que incluem trombose venosa profunda, tromboses superficiais ou tromboembolismo pulmonar - e o uso de anticoncepcionais orais não é antigo. Roaldo Meissner afirma que esta simples pergunta pode evitar problemas. “Com esta resposta, é possível saber se há antecedentes ou não. Um simples histórico clínico pode identificar uma tendência da mulher desenvolver a doença”, afirma. Ainda de acordo com o médico, é possível fazer exames para identificar se a paciente é ou não portadora de algum tipo de trombofilia.

2. Tem obesidade?

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Quem tem obesidade, deve ter um cuidado dobrado para evitar tromboses de maneira geral. Fazendo uso de anticoncepcionais, o cuidado deve ser dobrado. De acordo com Alexandre Yoshiharu, uma pessoa obesa produz uma quantidade maior de hormônios na célula de gordura. Além disso, o sobrepeso provoca mais congestões venosas o que aumenta os riscos de trombose.

3.Faz uso de cigarros?

O uso de cigarros e anticoncepcional também é uma combinação perigosa, de acordo com o cirurgião vascular. A razão é uma série de substâncias nocivas presentes no cigarro que fazem com que o sangue fique mais grosso, atrapalhando a circulação. Usar anticoncepcionais nestas condições pode ser uma combinação perigosa, de acordo com Alexandre Yoshiharu. “A combinação é quase um desfecho claro para a trombose”, afirmou.

O que fazer?

De acordo com o ginecologista Roaldo Meissner, quando a paciente faz parte de um dos grupos de risco, há outros tipos de métodos anticoncepcionais disponíveis e menos “problemáticos”, como o anel vaginal, o adesivo e os dispositivos intrauterinos, como DIU de cobre o o DIU mirena. “O importante é conversar com o médico para saber qual é a melhor opção no caso específico”, explica o ginecologista.