Mais de dez anos após a explosão do navio chileno Vicuña no Porto de Paranaguá, Litoral do estado, os devotos de Nossa Senhora do Rocio, padroeira do Paraná, ainda convivem com os estragos causados pelo acidente. Os vitrais e o telhado do santuário foram prejudicados devido à forte explosão. As paredes também sofreram rachaduras. Até hoje, apenas o telhado foi consertado, com recursos do próprio santuário, para evitar prejuízos ainda maiores. As outras avarias ainda aguardam a resolução de um processo que se arrasta na Justiça.
O processo 6.515/2006 movido pelo santuário contra a empresa Cattalini, dona do píer onde o navio estava atracado, e contra a Sociedad Navieras Ultragas, companhia chilena dona no navio, não tem previsão de término. Correndo na 2.ª Vara Cível de Paranaguá, a ação estava na semana que passou no gabinete da juíza Giovana Smanhotto, aguardando uma avaliação.
Festa católica
A cidade de Paranaguá sedia a terceira maior festa católica do país, depois do Círio de Nazaré e da Festa de Nossa Senhora Aparecida. A tradicional procissão do dia 15 de novembro chega a reunir 100 mil pessoas, sem contar os outros dias da festa, que começa em 6 de novembro e se encerra no dia 16 com a procissão de retorno da imagem da santa. Ao longo do ano, o Santuário do Rocio também tem uma extensa agenda de peregrinação. Devotos vêm de todo o estado em caravanas e também de outras regiões do Brasil.
Segundo a advogada que representa a igreja, Fernanda Andrezza, duas perícias foram realizadas no santuário para avaliar os estragos deixados pela explosão: contábil e de engenharia. A avaliação contábil analisou os prejuízos imediatos, uma vez que o acidente aconteceu no dia 15 de novembro de 2004, dia da padroeira, quando milhares de fiéis estavam na região.
“A perícia concluiu que houve prejuízo financeiro. Muita gente acabou não participando naquele ano”, disse a advogada. Na ação, consta que, na noite do acidente, o Santuário arrecadou R$ 50 mil. No ano seguinte, na mesma data, foram arrecadados cerca de R$ 390 mil.
Há três semanas a perícia de engenharia foi realizada. “Eles avaliaram a situação dos vitrais e das rachaduras, mas ainda não recebemos o laudo”, explicou Fernanda. O resultado desse trabalho ainda não está pronto.
Outro lado
A Cattalini Terminais Marítimos informou que aguarda o resultado da perícia, conforme determinação judicial. “Existe uma dificuldade para distinguir o presumido dano causado pelo acidente da deterioração natural da igreja, já que o acidente aconteceu há 11 anos”, explica a nota. A empresa também ressaltou que tem colaborado com o santuário ao longo dos anos. “Independente [sic] do curso da ação judicial a Cattalini sempre prestou auxílio à igreja, quer patrocinando a festa em louvor a Nossa Senhora do Rocio com doações em espécie e cessão, sem custo, de áreas para organização do evento, quer contribuindo para a igreja em uma série de atividades sociais”.
A administração do santuário chegou a cogitar a hipótese de arcar com os gastos da restauração, mas foi orientada a não fazer isso sob o risco de perder o processo. Segundo Fernanda, embora exista a possibilidade de reaver o valor investido, é mais seguro aguardar. “A perícia é uma determinação judicial. A parte de engenharia só foi feita agora, depois de dez anos do acidente. Se eles tomam a frente, poderia gerar aquela situação de que uma parte diz que estragou mais e a outra parte alega que foi menos”, explicou a advogada.
Enquanto esperam, avisos foram colocados nos vitrais para esclarecer o motivo de ainda estarem avariados. A advogada estima que demorem mais cinco anos para haver uma conclusão do processo.
Não há registros de quando os vitrais foram doados por famílias devotas e instalados. A última grande reforma da igreja foi em 1920, mas “a instalação foi bem depois disso, com certeza”, explicou o coordenador da Família Missionária com a Mãe do Rocio, Adan Carlos Silva. Ele lembrou também que os vitrais são antigos, com detalhes trabalhados à mão. “Hoje em dia isso não existe mais, por isso é difícil estimar os valores.”
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