Apesar das suspeitas de irregularidades no “recall” de coletes balísticos das forças de segurança do Paraná, mais de 7,4 mil policiais militares continuam indo às ruas usando o equipamento como proteção. O comando da Polícia Militar (PM) entende que o material está “em plenas condições de uso”. Na semana retrasada, um teste balístico feito pela Delegacia de Explosivos, Armas e Munições (Deam) reprovou os coletes, que chegaram a ser perfurados durante o exame.
Os 7,4 mil coletes passaram por um “recall”, que consiste na colocação de uma manta extra de aramida – equipamento usado neste tipo de equipamento – e foram devolvidos aos policiais. Desde o último dia 31, no entanto, a Deam investiga o procedimento, sob suspeita de uma série de irregularidades e de dúvidas quanto à eficácia do produto.
Um volume de cerca de 540 coletes foi apreendido em um barracão, na região metropolitana, no instante em que passavam pelo “recall”. Um teste balístico realizado pela Deam em amostra destes coletes reprovou o material para uso. Ao longo do exame, algumas unidades foram transfixadas pelos projéteis. Ainda segundo as investigações, 1,4 mil coletes que receberam o reforço estavam vencidos e, conforme portaria do Exército, deveriam ter sido destruídos.
Mesmo diante dos resultados do teste, a PM não cogita recolher o equipamento. Por meio de nota, a corporação informou que o equipamento está “em plena condições de uso, consoante às normas técnicas e especificações balísticas do respectivo nível de proteção balística” e que “as garantias de proficiência de segurança” é apresentada pelo fabricante, “consoante testes que foram realizados e que determinaram o processo ora em comento”.
Os policiais militares, por sua vez, se dividem entre a dúvida e a preocupação. Entidades, como a Associação dos Praças da Polícia Militar (Apra-PR), solicitaram que o Ministério Público e a Polícia Federal acompanhem as investigações. “A própria constatação do teste balístico nos deixou com muito receio em relação ao material. Nós queremos o esclarecimento total do fato e queremos que o governo tome uma posição em relação a isso”, disse o presidente da associação, Orélio Fontana Neto, que acompanhou o exame balístico promovido pela Deam.
Um soldado – que concordou conceder entrevista sob condição de não ter a identidade revelada – deixou claro que a incerteza em relação ao equipamento tem provocado impactos na segurança pública. “A gente está apavorado, rezando pra não ter confronto. Porque, se tiver, a gente não sabe se está protegido”, disse o policial.
O Grupo Inbra, que fabricou os coletes, afirma que a manutenção dos coletes ocorreu de forma legal, com autorização da Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp) e com documentos exigidos pelo Exército. A empresa questionou os testes realizados pela Deam, classificando-os de “totalmente inválidos e imprestáveis, em razão da inobservância das normas técnicas e regulatórias aplicáveis”.
O fabricante afirma que, pelas imagens divulgadas na imprensa, verificou que os testes foram feitos “irresponsavelmente com armamento que causa impacto balístico superior à proteção que é exigida para a classificação dos coletes”. “Isso tudo compromete a legitimidade, a legalidade e o resultado dos testes. Além disso, causa estranheza o fato de o grupo não ter sido convocado para acompanhar os testes, como determinam as normas técnicas aplicáveis”.
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