"Tudo é previamente pensado. O Sindicato é um órgão profissional e deve ter analisado objetivamente o custo-benefício desta paralisação. De alguma forma, eles sabem o que estão fazendo e as consequências. Não agem emocionalmente."
Carlos Hardt coordenador do curso de pós-graduação em gestão urbana da PUCPR.
É triste de pensar que isso aconteceu justamente em um momento de discussão sobre a tarifa técnica que também diz respeito à população. Isso não vai se resolver de hoje para amanhã e vai criar uma situação de complicação generalizada em plena véspera de feriado."
Eduardo Ratton, professor titular do departamento de transportes da UFPR.
Durante a audiência conciliatória de ontem no Tribunal Regional do Trabalho da 9ª região (TRT-9ª), trabalhadores e empresários do transporte coletivo de Curitiba e região metropolitana rebateram a suspeita lançada pelo prefeito Gustavo Fruet durante participação no jornal Paraná TV, da RPCTV.
Na entrevista, Fruet afirmou que pediria a prisão de sindicalistas em caso de comprovação de que a greve dos ônibus iniciada às 0 h de ontem é fruto de um conluio entre empresários e trabalhadores. O acordo garantiria, ao mesmo tempo, aumento salarial a motoristas e cobradores e uma pressão no poder público pelo reajuste da tarifa técnica.
"Trazemos a negociação da forma mais transparente possível e sempre buscamos atingir as melhores condições de trabalho para motoristas e cobradores. Os interesses existem e isso ficou bem posto [na mesa de negociações do TRT]. Mas não tem porque discutir isso porque não existe conluio para um suposto aumento de tarifa", afirmou Anderson Teixeira, presidente do Sindicato dos Motoristas e Cobradores de Ônibus de Curitiba e Região.
Já da parte patronal, Carlos Roberto Ribas Santiago, afirmou que essa insinuação é absurda. "Jamais passou pela nossa cabeça utilizarmos a cidade como um instrumento de negociação. Tivemos embates, muitas vezes duros, mas nunca discutimos isso", afirmou.
O tema também foi abordado por representantes da Urbs que estavam no local. Rodrigo Binotto Grevetti, diretor de transportes da empresa, ressaltou que a declaração foi dada na condicional. "O prefeito não disse que isso ocorreu, mas que agiria caso fosse comprovado."
"Lock out"
Sem entrar no mérito do movimento da capital, o professor José Ricardo Vargas Farias do Departamento de Transportes da UFPR, diz que é muito difícil encontrar casos de mobilização integral em torno da greve, quando há um jogo de cena entre patrões e empregados. "Normalmente as greves vêm associadas a piquetes na porta dos locais de trabalho para convencer aqueles que estão indo trabalhar a aderir à paralisação. Há, contudo, casos em que a empresa também tem interesse na paralisação e promove e que se costuma chamar de lock out, ou seja, ela mesma fecha as portas e daí a adesão é total".
Em algumas garagens, motoristas que saíram para trabalhar foram hostilizados pelos colegas. Leia mais na página 6.
Para Eduardo Ratton, professor titular do departamento de Transportes da UFPR, a greve dos ônibus de Curitiba e região não é apoiada pelas empresas. "É um movimento do Sindimoc com a categoria, as empresas de ônibus têm muito a perder com a greve e não consigo acreditar que estejam por trás disso. Era uma situação que podia ter sido resolvida antes sem prejudicar a população, mas não foi", afirmou.
Já Carlos Hardt, coordenador do curso de pós-graduação em gestão urbana da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), diz ser difícil acreditar na suspeita lançada pelo prefeito Gustavo Fruet. "Na verdade, o que sabemos é que existe um jogo e cada um dá suas cartas de acordo com seus objetivos. Por causa de um jogo político, em maior ou menor grau, todo mundo sai prejudicado nessa história. As empresas não faturam, os motoristas e cobradores não ficam confortáveis nessa situação e o povo sai perdendo."
Colaborou Ágatha Dea
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