Luís Fernando (ao centro) é uma das crianças acompanhadas pela Pastoral. A voluntária que cuida dele teve o filho ajudado pela farinha multimistura e se juntou ao grupo| Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo

Simplicidade é a aposta para salvar vidas

A proposta da Pastoral da Criança parece simples: combater a mortalidade de crianças entre zero e 6 anos, promover sua saúde e garantir uma gestação tranquila às mães por meio, principalmente, da divulgação de informações básicas.

Leia a matéria completa

CARREGANDO :)

Morte de Zilda tem destaque internacional

A morte de Zilda Arns não repercutiu apenas no noticiário brasileiro. Sua morte e o valor de sua militância também tiveram destaque em diversos idiomas por meio de periódicos em vários países.

Leia a matéria completa

Terceira idade

Médica criou Pastoral da Pessoa Idosa

Nos últimos anos, a dedicação de Zilda Arns não era exclusividade daqueles que estão iniciando a vida.

Leia a matéria completa

Publicidade

No exterior

Presença da entidade chegou a 20 países

Para promover uma infância saudável às crianças carentes, a Pastoral da Criança expandiu seus limites de atuação para 20 países na América Latina, África e Sudeste da Ásia.

Leia a matéria completa

Doutora Zilda sendo trans­­portada de barco no Rio Negro para uma das comu­­ni­­da­­des atendidas pela Pastoral da Criança
Zilda Arns mede o peso de uma criança: força da pastoral criada por ela estava na inspiração e no trabalho voluntário
Zilda Arns, fotograda em 2004: vida dedicada às crianças
A médica Zilda Arns Neumann posa em praia do Rio Negro, na cidade de São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas, tendo ao fundo duas crianças
Dona Zilda: ideias marcaram os jovens repórteres da Gazetinha.
Dia de pesagem das crianças na paróqui Sagrado Coração / 2005
Zilda Arns realizando seu trabalho na Pastoral da Criança
Veja os resultados da Pastoral da Criança
Veja também
  • Corpo de Zilda chega hoje para velório em Curitiba

O legado deixado pela médica pediatra e sanitarista Zilda Arns, fundadora da Pastoral da Criança, vai muito além da redução da mortalidade infantil. Os números, é claro, impressionam: nos locais onde a Pastoral trabalha, a mortalidade é de 13 crianças por mil nascidos vivos – no restante do país, é de 23. Mas o exército de 260 mil voluntários vai mais longe e aprendeu a maior lição que a "mãezinha", como é conhecida em todos os cantos do Brasil, poderia dar: a solidariedade. São milhares de homens e mulheres que dedicam seu tempo ao próximo e aprenderam que, como dizia a médica, não existe fé sem obras.

A esperança de Zilda em ver as crianças bem nutridas e amadas pode ser observada em cada município brasileiro. Em um bairro pobre de Curitiba, há um bom exemplo do ensinamento da fundadora da Pastoral. Os 33 voluntários atendem mensalmente 300 crianças. Somados os familiares, são pelo menos 900 pessoas beneficiadas. O trabalho é de formiguinha, mas os resultados alcançados ultrapassam os números. "Quando comecei a ser voluntária, acreditava que daria mais do que receberia. Hoje vejo o oposto e mudei minha forma de enxergar o mundo. Per­ce­­bi que, mesmo sendo um grão de areia, poderia fazer pequenas revoluções", diz a coordenadora de área Noelia Maria Gomes Lira.

Noelia comanda a pastoral na Paróquia Profeta Elias, no Bairro Novo, um dos mais pobres de Curitiba. O trabalho começou há mais de uma década e a cada ano se fortalece. Somente a Profeta Elias tem nove pastorais da criança. Noelia e sua equipe dividem o local em regiões e selecionam as famílias em maior risco. Cada voluntária, chamada de líder, fica responsável por um determinado número de meninos e meninas e passa a fazer visitas mensais. Informações como peso, carteira de vacinação e amamentação são anotadas em um livro e depois discutidas em grupo. Quem está abaixo ou acima do peso ou tem algum problema de saúde recebe a farinha multimistura criada por Zilda. O caderno que recebe os dados foi criado pela pastoral, que depois reúne todo o conteúdo em um banco de dados. As gestantes também são acompanhadas e recebem informações sobre a melhor forma de acolher os bebês.

Publicidade

Retribuição

Foi a receita simples criada pela fundadora da Pastoral que ajudou a salvar a vida de Natasha Gonçal­ves, 12 anos, e Luis Fernando de Azevedo, 4 anos. A menina tinha a saúde frágil quando nasceu, provavelmente por causa de baixa imunidade, e perdia peso ou ficava doente com muita frequência. Quando a equipe de líderes bateu na porta da dona de casa Dora Perpétua Barbosa Gonçalves, ela viu que tinha chances de cuidar melhor da filha. "Depois que ela começou a tomar a multimistura melhorou muito. Hoje é uma adolescente saudável graças a isso", diz. O mesmo aconteceu com o pequeno Luis Fernando. Vizinho de Dora, ele é acompanhado mensalmente pela líder Lucilene das Neves Reis, 40 anos, que conheceu a pastoral quando precisou da farinha para seu filho. "Depois que minha família foi ajudada, percebi que precisava retribuir e continuar a rede de solidariedade", conta.

Mas a vida delas não é feita só de agradecimentos. O exército de voluntários muitas vezes encontra barreiras dentro das famílias das crianças. Há casos de pais envolvidos com drogas que não autorizam a entrada das líderes. "Havia uma mãe que tinha uma criança muito desnutrida e pediu nossa ajuda chorando. Ela disse para irmos até a casa dela em determinado horário, porque o marido não estaria lá. Mas ele acabou chegando mais cedo e nos expulsou. Tivemos de sair pela janela", diz Noelia.

"Milagres"

A líder Dejanira Costa Pilat está na Pastoral há três anos, mas há duas décadas ouvia falar do trabalho de Zilda. Ela morava em Sertanópolis, vizinha de Florestópolis, onde ocorreu o projeto-piloto da pastoral. "Muita gente falava, na época, sobre uma médica que estava fa­­zendo milagres na cidade ao lado. A gente não acreditava até ver uma criança que estava quase morta voltar de lá saudável. Nunca esqueci disso", recorda.

Publicidade

A promotora de vendas Salete Maria Pires Borges é voluntária há 12 anos na Pastoral. "Foi com dona Zilda que aprendi que não existe fé sem obras. Temos de pôr a mão na massa. Faz uma grande diferença fazer o bem ao próximo", afirma. Salete conta que a médica pediatra chegava aos locais e logo buscava as crianças. "Ela queria ver como estava o trabalho, se as crianças estavam bem. Essa era a recompensa dela", acrescenta.