Mohammed D'Ali Santos, de 20 anos, o principal suspeito de ter matado e esquartejado a jovem inglesa Cara Marie Burke, de 17 anos, recebeu uma ligação da mãe na manhã deste sábado (2). Segundo o advogado, Carlos Trajano, Ivany Carvalho dos Santos, que vive na Inglaterra, está muito revoltada com o ocorrido. "Ela me disse que está se sentido muito mal. Ela alega que, se estivesse no Brasil, ao lado o filho, esse crime não teria acontecido."
O irmão de Santos, Bruce Lee, viaja para o Brasil na próxima semana para acompanhar o caso de perto. "É mais uma forma de prestar apoio ao rapaz. Ele só não veio antes porque não achou passagem aérea da Inglaterra para o Brasil", disse o advogado.
Cara foi morta e esquartejada no fim de semana passado. Santos foi preso na quinta-feira (31). Os policiais que o prenderam gravaram uma confissão do rapaz e ainda uma tentativa de suborno. Ainda de acordo com a polícia, ele voltou a confessar que matou a jovem em depoimento formal, na sexta-feira (1º).
Os bombeiros pretendiam levar Santos até o local onde os membros de Cara teriam sido jogados neste sábado, mas o delegado Jorge Moreira, da delegacia de homicídios, disse o rapaz não deve sair da delegacia onde está preso, por questão de segurança. O delegado afirmou ao G1 que pretende pedir a transferência do suspeito.
A Polícia Civil deve ouvir donos de chácaras da região onde partes do corpo da jovem inglesa teriam sido jogadas, em Bonfinópolis (GO), a cerca de 30 quilômetros de Goiânia. De acordo com ele, o objetivo é saber se os moradores viram pacotes suspeitos ou sentiram cheiro de material em decomposição nos últimos dias. Defesa
Para o advogado Trajano, não há como mudar o quadro de réu confesso de Santos. "Ele confessou que cometeu o crime, mas o que vou trabalhar é a questão de que ele vinha de quatro dias ininterruptos de consumo de cocaína. Acredito que ele nem saiba ainda o que realmente fez. Aos poucos, o efeito permanente dos entorpecentes se afasta e a personalidade dele volta ao normal", disse ao G1.
O advogado afirmou ainda que, na carceragem da Delegacia de Homicídios, o rapaz confessou que já chegou a usar gás de cozinha para se drogar. "Quando ele não tinha as drogas que costumava usar, ele cortava a mangueira do gás e cheirava aquilo até desmaiar."
O advogado disse que a personalidade agressiva e o vício em drogas do cliente podem ser conseqüências do sentimento de perda do pai. "O pai dele era um cabo da Polícia Militar, que foi assassinado em 1989. Ele, apesar de não conhecer o pai, sentiu muito a perda e passou a usar drogas."
Desde pequeno, segundo o advogado, Santos atirava pedras em viaturas. "Era um sinal de revolta pela perda do pai policial. Depois disso, ele teve alguns problemas com furto e roubo e até com outra tentativa de homicídio, quando adolescente", disse Trajano.
Ele não concorda com a possível transferência do cliente. "O delegado pode ter necessidade de ouvir o menino novamente e isso pode atrapalhar o próprio trabalho de investigação." Entenda o caso
Os investigadores afirmam que Cara teria ameaçado contar à polícia e também à família de Santos que ele estaria envolvido com drogas. A polícia diz que ele confessou o crime. O rapaz teria dito, em depoimento preliminar, que matou a garota, foi a uma festa e, depois, esquartejou o corpo.
O tronco da jovem inglesa foi encontrado na segunda-feira (28), dentro de uma mala, perto da BR-153, às margens de um rio. A arma usada no crime, uma faca, e luvas cirúrgicas foram encontradas pela polícia em um bueiro na rua onde mora o suspeito. O material foi levado para perícia.
A polícia espera a localização dos membros da vítima para formalizar a identificação de Cara. Até agora, o reconhecimento do corpo foi feito apenas pela tatuagem que ela fez nas costas. A polícia também investiga a possível participação de uma segunda pessoa no crime. Ela teria ajudado a esconder o corpo da estrangeira. Amizade e protesto
Na página de Santos, no Orkut, até sexta-feira (1º), internautas haviam deixado mais de 6 mil mensagens de protestos e pedidos de justiça.
A amizade de Cara com ele preocupava os amigos que a inglesa fez em um bairro da periferia de Goiânia. "Todo mundo falava e sabia que o Mohammed não era uma pessoa boa pra ela, porque todo mundo sabia que ele mexia com droga", conta uma amiga.
Segundo as pessoas que conviviam com a jovem estrangeira, Santos não tinha emprego e não estudava. "Ele não fazia nada. É uma pessoa que não se importa muito com o que está acontecendo ao redor dele. Tanto faz se ele dormir, se ele comer, se é dia, é noite. Pra ele, tanto faz", conta uma testemunha, que não quis se identificar.