O diretor do CEM (centro para adolescentes infratores em Teresina), Hebert Neves, disse que a unidade não tinha estrutura para isolar dos outros três colegas Gleison Vieira da Silva, 17, que foi morto dentro da unidade na noite desta quinta-feira (16). Os quatro foram condenados por estupro coletivo em Castelo do Piauí (a 190 km de Teresina) de quatro garotas de 15, 16 e 17 anos no fim de maio.
Os três adolescentes são os suspeitos do homicídio, já que estavam recolhidos todos juntos no mesmo espaço no CEM. Gleison foi o responsável por delatar os outros três menores.
Para o Ministério Público Estadual, houve “falha gritante” na segurança do adolescente, porque ele já vinha denunciando em depoimentos de que era ameaçado de morte tanto pelos comparsas do crime quanto por outros internos.
Jovem que confessou estupro em Piauí é morto por colegas após delação
A vítima é Gleison Vieira da Silva, 17 anos, e foi assassinado por volta das 23 horas na cela “D” com murros, pontapés e pancadas na cabeça
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Já o diretor do CEM disse não ter recebido da Justiça ou do governo estadual nenhuma recomendação para que Gleison fosse isolado dos três colegas. “Todos os adolescentes que estão na unidade [para onde foram transferidos] os rejeitaram e fizeram uma batida de grade por mais de dez minutos”.
Segundo Neves, a instituição está lotada -com 84 adolescentes, tem capacidade para 60. Ele alega que não tinha estrutura física na unidade para separar Gleison dos demais condenados e que buscou proteger os quatro dos demais internos. “Se não colocasse os quatro separadamente, com certeza haveria quatro óbitos hoje [quinta]”.
Ao chegarem ao CEM, Neves disse ter conversado com os quatro transferidos se, diante da lotação, haveria alguma objeção por eles de ficarem todos juntos, os quatro, no mesmo espaço, e que nenhum teria recusado. No centro anterior, o Ceip, Gleison estava isolado dos outros três.
O diretor disse ter aberto sindicância para apurar possível negligência dos policiais de plantão e outros funcionários durante o homicídio.
Gleison foi o adolescente que deu detalhes do estupro coletivo à polícia e participou da reconstituição do crime no Morro do Garrote, de onde as meninas foram arremessadas depois de terem sido estupradas, amarradas e agredidas. Ao contrário dos outros acusados, Gleison, perante o juiz, manteve a confissão feita pelos quatro anteriormente à polícia de que estupraram e agrediram as quatro vítimas -uma delas, Danielly Rodrigues Feiotsa, 17, morreu.
Os quatro adolescentes foram transferidos às 17h da quarta-feira (15) para o CEM. Eles ficaram por 45 dias recolhidos no Ceip, uma unidade para internação provisória. Pela lei, o prazo máximo de internação em locais provisórios é justamente de 45 dias, e, vencido o prazo, houve a transferência.
A chegada deles ao CEM provocou protesto dos demais internos. Por dez minutos, os adolescentes da unidade ficaram batendo nas grades, com gritos, contrários à transferência.
‘Foguetes’
O corpo de Gleison está no IML de Teresina, aguardando chegada dos parentes para liberação. Não foi autorizado que este procedimento pudesse ser feito pela assistente social de Castelo do Piauí, Ticiane Cavalcanti Chaves Martins.
A notícia da morte do adolescente repercutiu na cidade onde houve o estupro coletivo, diz a assistente. “Há uma comemoração, inclusive com foguetes, devido à morte do adolescente. A cidade está em polvorosa. Mas a família só quer que o enterro seja em paz”.
Em nota, o governo do Piauí disse lamentar a morte de Gleison e que, “para garantir a segurança e integridade dos menores”, os adolescentes estavam internados “em alas separadas, a fim de que não ocorressem conflitos com outros internos”. A nota não explica, porém, porque Gleison, no CEM, foi posto junto com os três suspeitos de matá-lo.
O homicídio deu-se, segundo a nota, “entre os próprios adolescentes envolvidos no crime, após desentendimento entre eles” e que todos os procedimento determinados pela Justiça estão sendo “rigorosamente obedecidos”.
Com a morte de Gleison, os adolescentes foram novamente removidos e estão recolhidos na central de flagrantes.
O governo, segundo o texto, “continuará tomando todas as medidas legais e que foram determinadas pela Justiça”. Afirmou, ainda, que disponibiliza, desde o início das investigações do caso, assistentes sociais e psicólogos para as famílias dos envolvidos.
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