Moradores do Tatuquara, na periferia de Curitiba, ficaram animados quando os planos para inaugurar um vestiário ao lado do campo usado pelos jogadores do Palmeirinha – time da comunidade – saiu do papel. Com a conquista, a ideia era tornar o espaço um dos pontos de disputa do campeonato amador da cidade, a Suburbana, e dar mais amparo à equipe. Mas o sonho nunca ganhou corpo. Desde que foi inaugurado, em dezembro do ano passado, o vestiário ainda não foi usado. Ao menos não pelo time.
Com investimento de aproximadamente R$ 75 mil reais, o vestiário da Praça Acir Tosi, mais conhecida como bosque Aníbal Cury, não resistiu sequer um dia por inteiro. Antes mesmo da inauguração – que precisou ser adiada por uma vez – foi alvo de depredações. Entre a conclusão da obra e a entrega dela, foram necessárias nove reformas para reparar telhas e azulejos quebrados, portas destruídas, paredes pixadas. Um custo extra de R$ 7,5 mil.
“Nosso time não usou nenhuma vez. E se o time daqui não pode usar, quem dirá os de fora”, lamenta Carmen Lúcia Oliveira, moradora do Tatuquara e uma das integrantes da diretoria do Palmeirinha. Ela conta que para tentar barrar a entrada de vândalos nos banheiros, a própria direção do time colocou grades de ferro nas portas do vestiário. Mas o investimento não durou muito.
“Uma foi roubada e a outra está assim, quebrada. Não tem como impedir, até porque a maioria dos casos acontece de madrugada. É uma coisa que desanima porque nem as crianças que treinam aqui podem usar. Nem para tomar água”.
As crianças às quais a diretora se refere fazem parte da escolinha de futebol do bairro. Se a vontade de ir ao banheiro aperta durante o treino, eles precisam correr para um matagal próximo, mas ainda assim mais longe que o vestiário. Durante os jogos realizados no campo, Carmen conta que preciso improvisar espaços para que os times possam trocar de roupa. Enquanto isso, o vestiário virou recinto atrativo para usuários de drogas e ladrões, que já usaram o local até mesmo para esconder objetos roubados.
Descrença
De acordo com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SMMA), Curitiba possuiu ao todo 11 vestiários como o do bosque Aníbal Cury espalhados pela cidade, a maioria deles em situação semelhante: praticamente destruídos por vândalos. E não só estes ambientes. Praças, equipamentos de trânsito, unidades de saúde, quase nada passa batido. O que põe a comunidade em dúvida quanto à serventia destas áreas para a comunidade.
“Quando vejo uma coisa destruída assim, me pergunto: vai adiantar arrumar, se eles vão vir de novo e estragar?”, questiona, entre um misto de revolta e descrença, Sandro Bueno, outro morador do Tatuquara.
Do que é capaz um spray de tinta azul
Para a prefeitura, a resposta está no empenho da própria comunidade. Questionado sobre o papel do efetivo de proteção municipal para diminuir a frequência das depredações, o secretário de Meio Ambiente, Renato Lima, disse que rejeita a ideia de investir no aparelho de segurança como uma alternativa.
“Eu não vejo que a gente possa colocar guarda, policial, agente de segurança, câmera na cidade inteira. O município tem uma atuação acessória na questão de segurança. A responsabilidade de segurança é uma responsabilidade do nível estadual e do nível federal”, defende.
Para o secretário, são duas as principais apostas do município frente à perda dos moradores com os atos de vandalismo: informação e educação. “Hoje, para eu pensar em investir ou em consertar, tenho que garantir que tenha algum tipo de parceria com a comunidade. Compete ao cidadão ajudar a cuidar, utilizar da maneira correta e, quando observar alguma coisa incorreta, denunciar”.
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