O veranista que vai a um mercado de peixe no Litoral do Paraná volta para casa com muito mais do que frutos do mar frescos na sacola. Quem entra no espírito desses mercados leva ainda, de lambuja, histórias de vida, laços de amizade e boa conversa.Feito o advogado Gerson Graboski, 50 anos, de Curitiba. De férias na praia, na última quinta-feira ele reencontrou a vendedora Celene Rosa Borba, 56 anos, dona da banca de peixes "da Celene", no Mercado Municipal de Guaratuba. Além de comprar camarão, lula e cação, Graboski aproveitou para conversar com a vendedora e pedir dicas gastronômicas. "Ela sempre indica qual é o melhor peixe para comprar. Venho aqui há uns 15 anos. Vi a filha dela crescer", conta Graboski, que frequenta o mercado mesmo fora de temporada. "O Gerson já é da casa. Tem até conta aqui", diz Celene, anotando as compras do freguês amigo na caderneta.Filha, esposa e mãe de pescadores, Celene vende peixe desde os 13 anos no mercado de Guaratuba, quando ele ainda ficava na subida do ferry boat. "Eu já vendia camarão para o meu pai no tempo em que era tudo comercializado em balaios de cipó. Hoje, o mercado tem mais estrutura", compara Celene, referindo-se à construção atual, inaugurada em 1991. Assim como o mercado de peixe de Guaratuba, o de Matinhos e o do Balnerário de Shangri-lá, em Pontal do Paraná, são tão tradicionais quanto e também reúnem uma porção de famílias antigas que se mantêm em torno da pesca.
"O espaço em Matinhos foi construído em 1996, mas desde 1966 os pescadores já comercializavam seus produtos em barraquinhas no mesmo local", informa Mário Hanek, 48 anos, presidente da colônia de pescadores e um dos responsáveis pelo mercado. Já o de Shangri-lá tem igualmente cerca de quatro décadas de existência. "Ele funcionou em barracas improvisadas na beira da praia por muito tempo, até que, no fim dos anos 1990, foram construídas estas instalações", conta Gêneses Tavares, 46 anos, que comanda a colônia de pescadores e o mercado de Shangri-lá.
Um ponto turístico
Diferente do que se vê em museus e demais centros culturais, a maioria das tradições desses mercados de peixe não está guardada em quadros ou livros, mas em cada um dos pescadores e vendedores veteranos. "Tem muita fonte para quem quiser ouvir uma boa história de pescaria. O meu tio Jacir, por exemplo, tem 79 anos, continua pescando e adora um bom papo", garante Tavares, pescador tarimbado que, desde os 13 anos, já circulava pelo mercado de Shangri-lá.
Com tantos atrativos, não há dúvida de que os mercados de peixe já se transformaram em pontos turísticos, ainda mais inflados durante a temporada de verão. "Em um dia bom, devem passar umas 2 mil pessoas por aqui. Nosso movimento aumenta 100% no verão", estima Raul Chaves, o diretor de Pesca e administrador do mercado de Guaratuba.Além de fazer compras, a maioria dos veranistas aproveita para conhecer as embarcações e ter um contato direto com os pescadores, lembra Mário Hanek. "Quem mora na cidade faz questão de trazer os filhos ao mercado de peixe para conhecer essa realidade diferente. Tem muita criança que vê ostra, siri e caranguejo aqui pela primeira vez", diz o administrador do mercado de Matinhos.
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