Morávamos perto da Igreja Nossa Senhora Aparecida no Alto Baú. Depois de 11 dias de uma cirurgia, eu estava na cama em repouso. Era o dia 22 de novembro. Sexta-feira meu marido via pela janela o Alto Baú vir abaixo. Ficamos em casa durante três dias. Na segunda-feira tudo ao redor estava destruído. A lama tomou conta das estradas, do rio, das fontes de água e das casas. Eu já pressentia alguma coisa ruim. A cama onde eu estava tremia e foi a hora que meu marido disse: "Se tu não conseguires andar vamos morrer soterrados". Com muita dor e fraqueza, resolvi levantar e caminhar.

CARREGANDO :)

Saímos só com a roupa do corpo e documentos. A chuva não dava trégua. Tentamos descer para chegar à igreja, mas o medo era tanto que, em vez de descer, resolvemos subir. Engatinhamos pelo mato por uns quilômetros, pulamos valas de metros e onde pisávamos a terra sumia embaixo dos pés. Meu marido às vezes levava mais acima a nossa filha, de 4 anos, colocava num lugar mais seguro, e depois voltava escorregando para me tirar do atoleiro. Não sei de onde tirava tanta força. A terra rachava e tremia.

Chegamos à casa da família Moje. Fugimos todos pelo mato, levamos o gado e uma vaca de leite para garantir alimento pelo menos para as crianças e um deficiente. Éramos 12 pessoas.

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Chegamos num lugar que achávamos que era seguro. Montamos uma barraca no mato para ficar protegidos da chuva e do vento. Quando paramos para pensar, vimos que estávamos vivos, mas isolados do mundo. O desespero maior foi quando a noite chegou. Dormimos sem nada, sem destino, sem saída.

Comecei a rezar e pedir a Deus que me iluminasse para mostrar-nos uma saída, quando lembrei do telefone do meu sogro e tínhamos um celular com bateria. Ligamos para ele em Navegantes, pedimos socorro e indicamos o lugar onde estávamos. No dia 25 de novembro, perto do meio-dia, apareceu um helicóptero. Estávamos salvos e sentimos um grande alívio.

O local da barraca onde eu, minha família e meus amigos pernoitamos, hoje, dia 27 de novembro, não existe mais. Desapareceu.

Terezinha Martendal, sobrevivente da tragédia.

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