Os protestos contra o governo de Michel Temer se avolumaram nos últimos dias – foram maiores do que no dia da votação do Senado que confirmou o impeachment de Dilma Rousseff. A intensificação pode estar relacionada a uma sequência de acontecimentos que embalou a insatisfação com o momento político. Confira oito motivações que estariam relacionadas à insuflação das manifestações:
É crime ou não – A decisão de fatiar a votação do impeachment, mantendo os direitos políticos de Dilma Rousseff, gerou uma confusão geral, principalmente porque o argumento de não penalizá-la veio acompanhado do reconhecimento, por parte de alguns deputados e senadores, de que o alegado crime de responsabilidade não havia efetivamente sido cometido.
Discurso de despedida – Depois da decisão do Senado, Dilma Rousseff veio a público e declarou que a situação não deixaria calados aqueles que discordam do impeachment. Foi uma conclamação sutil.
Discurso contraditório – Já Michel Temer, no mesmo dia da votação no Senado, usou dois tons completamente opostos. No pronunciamento de rádio e TV, falou em pacificação. Na reunião ministerial, disse que não aceitaria reações contra o que havia sido decidido pelos senadores.
Movimentos sociais – Alguns indicativos de que haveria reação em caso de impeachment já haviam sido manifestados por integrantes de movimentos sociais. João Pedro Stédile, do MST, declarou que a vida de Temer se transformaria em um inferno, em caso de impeachment.
Medidas impopulares – Depois de confirmado no poder, Temer deixou claro que tomará medidas impopulares com o argumento de colocar a “casa em ordem”. A perspectiva de perda de direitos acirrou os ânimos.
Não querer ser chamado de golpista – O desconforto de Temer ficou evidente quando ele admitiu que não queria ser chamado de golpista. Aos opositores, a fala foi como um convite para que o termo se espalhasse ainda mais. Acabou funcionando como a situação do sujeito que reage a um apelido que, então, pega de vez.
Minimizar os protestos – A declaração de Temer, dada na China, de que os protestos no Brasil eram restritos a 40 pessoas, uns gatos pingados, teve efeito duplo. Além de não ser verdade – quando a resposta foi dada uma manifestação reunindo milhares já tinha ocorrido na Avenida Paulista – a fala de Temer soou como uma provocação, que levou mais gente para a rua para mostrar que não se tratava apenas de 40 pessoas.
Atuação da polícia – A forma como a polícia atua também costuma gerar reações. Quando não age com inteligência e intervenções pontuais, para deter apenas quem efetivamente está cometendo crime, o trabalho policial é pouco eficiente e contribui para a noção de impunidade. Já quando a repressão policial é violenta, gera indignação e motiva novos protestos.
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