As eleições do segundo turno em cinco grandes cidades do Paraná não se esgotam em si mesmas. Elas se projetam imediatamente para futuros de curto e médio prazos e de maneira profunda, tanto do ponto de vista político quanto administrativo. Mudanças certamente virão nos dois sentidos, decorrentes da nova configuração que emergiu das urnas dos dias 7 e 28 deste mês.
Um dos efeitos recairá diretamente sobre o governo de Beto Richa. Não tendo ainda nem sequer chegado à metade completa do mandato período em que normalmente os governantes ainda gozam as delícias da lua de mel com o poder , Richa se verá obrigado a rever seus rumos se quiser sobreviver ao cataclisma que se abateu sobre ele.
A perda eleitoral que sofreu nos dois principais polos políticos do estado, Curitiba e Londrina exatamente aqueles sobre os quais edificou sua carreira , somada à inexpressividade de suas vitórias em outros redutos, obriga-o a repensar "o novo jeito de governar" que pregou na campanha que o levou ao Palácio Iguaçu em 2010.
Terá de lidar simultaneamente com duas frentes, diferentes porém não excludentes: a frente política e a frente administrativa.
A opção que adotou de fazer alianças com tantos quantos fosse possível em detrimento do seu partido, o PSDB, resultou em insucessos que podem custar caro para o seu próprio futuro. Após ter alijado Gustavo Fruet do partido e de vê-lo concorrer (e ganhar) como representante da oposição; e após ter implodido o PSDB de Londrina para apoiar o clã Belinati (Marcelo, PP) e vê-lo derrotado por Alexandre Kireeff (PSD), um empresário de pouca vivência política, Richa só pode se regozijar com os resultados de Ponta Grossa, Maringá e Cascavel. Nestes, foram eleitos os candidatos para os quais declarou apoio Marcelo Rangel (PPS), Pupin (PP) e Edgar Bueno (PDT), respectivamente, nenhum do PSDB.
Entretanto, o regozijo se esgota quando se sabe que, em Maringá, o vencedor mais deve sua vitória ao peso político da família Barros (Ricardo, Silvio e Cida) do que à eventual participação do governador. Em Cascavel, ocorreu a reeleição de Edgar Bueno, do PDT, cujo histórico de militância político-partidária está longe de colocá-lo como pertencente ao mesmo grupo capitaneado por Richa. Em 2010, por exemplo, Bueno trabalhou por Osmar Dias, adversário de Richa na eleição estadual. Em Ponta Grossa, o deputado Marcelo Rangel (PPS), apoiado por Richa, ganhou do petista Péricles de Mello pela magra diferença de 0,8%.
Pior mesmo foi o que as urnas de Curitiba escancaram para o governador. Era na capital que Beto Richa esperava assentar sua plataforma de lançamento em direção à reeleição. Já não pode mais contar com ela assim como não pode ter certeza de que os aliados que venceram em outras plagas lhe serão tão fiéis quanto a aposta que fez neles.
A Richa cabe agora pensar com urgência num rearranjo de suas forças tarefa que se tornou mais difícil em consequência da quebra de confiança que patrocinou no interior de seus próprios arraiais, especialmente dentro do partido que preside. É mais do que certo que, em virtude dos insucessos e buscando compensá-los, deva promover com muita brevidade a reforma de seu secretariado visando dar-lhe a representatividade que hoje não tem.
Só providências do gênero político, no entanto, não bastam para salvar Beto Richa do buraco que ele mesmo cavou. São necessárias, também, providências urgentes na frente administrativa: o tempo perdido já é quase impossível de ser recuperado nos dois anos que lhe restam do atual mandato mas sem dúvida precisarão ser preenchidos com pelo menos algumas das iniciativas e obras que, embora constantes de seu caderno de promessas, não foram até hoje minimamente cumpridas.
O Paraná espera que, ao voltar de seu périplo internacional, iniciado ontem, que o governador volte com fôlego e vontade para enfrentar a realidade crua que as urnas lhe apresentaram.
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