Uma revolução silenciosa está acontecendo em algumas igrejas católicas de grandes centros urbanos como São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba e Belém. Boa parte delas criou o que se chama de Pastoral da Acolhida e da Comunicação, grupos onde há gente encarregada de receber os fiéis que vão às missas. São uma espécie de hostess, que recebe as pessoas na entrada, conduz até os bancos e sondam o que gostam ou com que se incomodam durante as celebrações.
As sugestões e reclamações feitas a essas pastorais já ajudam as igrejas a mudar. O banco austero de madeira, a acústica ruim de alguns templos e até a comunicação com os fiéis começa a ser alterada. Igrejas estão ganhando bancos estofados, ar-condicionado e aparelhagem de som eletrônica para que as palavras do padre sejam ouvidas sem eco ou ruídos. Várias paróquias ganharam site na internet. Os sacerdotes se comunicam por e-mail com a comunidade e até campanhas de doação de recursos para construção de novos templos já são feitas pela internet.
- O consumidor da fé estava sendo mal-recebido e mal-tratado. Quem fica duas horas num banco duro de igreja tem dor nas costas. Não há estacionamento para quem vai de carro e o aparelho de som velho mais atrapalha do que ajuda. O consumidor é paparicado em todo lugar, menos na igreja. Nos últimos anos isso começou a mudar, e muitos padres estão aprendendo a usar o marketing como ferramenta para atrair e reter fiéis - diz o administrador de empresas Antonio Miguel Kater Filho, diretor do Instituto Brasileiro de Marketing Católico (IBMC), uma entidade que está ajudando a Igreja a se atualizar.
Templos mais confortáveis são apenas uma parte da mudança destinada a manter os católicos e reconquistar os que debandaram para outras religiões nos últimos anos. A outra mudança está na comunicação. Esses padres estão tentando abandonar nas missas o discurso chamado de 'teologuês', cheio de filosofia, mas distante do público.
Pode parecer uma contradição, tendo um Papa como Bento XVI, defensor do tradicionalismo e de posições conservadoras. Mas não é. O que a Igreja tenta é modernizar o discurso hermético, que diz pouco ao povo, sem abrir mão do conteúdo. Esses sacerdotes buscam um sermão mais simples, mais próximo inclusive do discurso usado pelos pastores evangélicos. Na prática é fazer um sermão mais emocional e menos racional.
Outra novidade é que o dízimo passou a ser encarado com uma visão empresarial. Dízimo era sinônimo de esmola. Agora isso está mudando. A prática da confissão também está sendo resgatada.
- A confissão é a melhor ferramenta que os padres têm para fazer pesquisas qualitativas das necessidades de seus fiéis, mas foi abandonada nos últimos tempos. É possível usar a confissão para fazer um sermão que atenda a necessidade das pessoas - diz Kater.
Tome o exemplo do Santuário de Santa Terezinha, em Taboão da Serra, na Grande São Paulo. Monsenhor Aguinaldo, o pároco, tomou aulas de marketing e aprendeu as lições. Está construindo um templo moderno, que terá ar condicionado, bancos confortáveis e som de primeira.
No site da igreja, os fiéis são convidados a contribuir. Como numa empresa que oferece promoções, a Santa Terezinha está sorteando entre os contribuintes uma passagem a Roma. O resultado é que o Santuário será construído em tempo recorde e o dízimo é um dos melhores da região. A Basílica de Nazaré, em Belém (PA), segue o mesmo modelo. Foi erguida em forma de teatro, tem vidros fumê e ninguém sofre nos 40 graus da capital paraense. Com tanto conforto, ela atrai a maioria dos casamentos realizados na cidade e a arrecadação cresce.
- Quem investe mais, tem retorno maior - diz Kater.
Kater é um consultor para padres, bispos ou outras instituições religiosas católicas que querem aprender a administrar melhor suas igrejas. Só em São Paulo, são pelo menos 40 clientes. Um de seus alunos foi o Padre Marcelo Rossi, a quem ele define como 'bom estudante', que sabe aliar a simplicidade nos discursos com grande apelo emocional. Católico, ele organiza todos os anos o Encontro de Marketing Católico, que reúne até 400 pessoas, de estudantes a padres e bispos, interessados em conhecer essas técnicas e comunicar melhor a salvação.
Para ele, o Papa João Paulo II foi um grande 'marqueteiro' para a igreja. O gesto de beijar o solo sempre que chegava a um país visitado, diz Kater, humanizou a igreja e a aproximou das pessoas. Ele avalia que, com Bento XVI, a igreja perdeu um pouco nesse campo. O novo Papa é mais intelectualizado, defensor dos dogmas da igreja e assumiu o posto com mais idade.
- A visita dele ao Brasil coloca os católicos novamente no centro das discussões e num momento de reflexão - diz Kater.
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