Apesar de afetar toda a população brasileira, a reforma política parece não comover os eleitores. O cientista político Leonardo Avritzer, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), observa que os brasileiros estão ausentes da discussão, mas ainda assim o tema preocupa a população, mesmo que indiretamente. "A população brasileira está claramente insatisfeita com o atual sistema político e ainda mais com o próprio Poder Legislativo, tanto no nível federal como nos níveis estadual e municipal", diz ele.
Segundo Avritzer, o fato de a pauta da reforma política partir do próprio Congresso desestimula a participação da população. De acordo com ele, o ideal seriam leis de iniciativa popular, com respaldo do Executivo. "Deveria haver uma grande mobilização da sociedade civil por uma pauta mais clara. A reforma política não vai surgir de dentro do Congresso", afirma ele. Ao definir a pauta de uma reforma política, os políticos acabam ditando os rumos de uma discussão sobre as regras às quais eles próprios seriam submetidos.
A deputada federal Rosane Ferreira (PV), que participou da comissão da reforma política da Câmara, discorda da análise de Avritzer. "As reuniões foram muito produtivas, mais por quem a gente ouviu do que pelo nosso trabalho como deputados. Ouvimos muito a sociedade civil, desde movimentos sociais até ministros do Supremo Tribunal Federal (STF)", diz ela. "E percebemos que, fora da Casa, há uma unanimidade de que, do jeito que está a política brasileira não pode ficar."
Discussões técnicas
No entanto, o problema é que a discussão, por vezes, passa por discussões técnicas sobre sistemas políticos. Isso acaba sendo de difícil compreensão para a população. "É um debate muito técnico, complexo e de difícil entendimento para um eleitorado de formação escolar muito deficitária", afirma a cientista política Silvana Krause, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Um exemplo citado por ela é o plebiscito para a escolha de um sistema político como foi proposto pela comissão do Senado. "É difícil até mesmo explicar para meus alunos como funcionam esses sistemas. Imagine para um eleitor de baixa escolaridade."
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