O ex-deputado federal Rodrigo Rocha Loures (PMDB) é um fiel escudeiro do vice-presidente Michel Temer (PMDB). Loures, que tem um cargo no Planalto ligado à vice-presidência, conversou com a Gazeta do Povo e falou, entre outras questões, sobre a postura de Temer com relação à abertura do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT). De acordo com Rocha Loures, o vice-presidente tem mantido uma postura discreta e de respeito à constituição. Sobre a tensão entre a presidente e o vice na articulação política do governo, o assessor afirma: “Quem escolheu afastá-lo da articulação foi ela. Quando foi chamado para colaborar, ele colaborou”, disse. Leia a entrevista completa.
Michel Temer afirmou que deve se manter distante do processo de impeachment. Qual é o motivo da decisão?
Por ser parte do governo, a postura que ele adotará é a postura de harmonia e de equilíbrio institucional e de respeito constitucional. Esse é um assunto do Congresso e é preciso que seja examinado lá. É uma postura serena, tranquila e constitucional, afinal de contas este é um processo previsto em lei que tem uma tramitação legal. É uma posição natural, sempre buscando a harmonia entre os poderes, até porque o PMDB tem várias frentes e tendências. Em respeito à posição interna do partido, ele deixa para que o assunto seja resolvido dentro da Câmara.
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De acordo com a Folha de S. Paulo, Temer teria dito que a presidente Dilma Rousseff nunca confiou nele. A presidente retrucou, dizendo que espera integral confiança dele. Como está a relação dos dois?
A relação entre os dois sempre foi muito respeitosa. Eles são de partidos diferentes que formaram uma aliança política. Sempre conviveram dentro da constituição – ele no papel dele, ela no papel dela. Nunca houve desequilíbrio nesta relação. É evidente que este é um momento surpreendente e na medida que o presidente Eduardo Cunha resolveu encaminhar o processo [de impeachment], iniciou um encaminhamento político inusitado que, embora previsto em lei, não é comum. Eu vejo que essa relação respeitosa entre eles continuará.
Mas já houve momentos em que o PMDB buscou um espaço maior dentro do governo, gerando tensão entre Dilma e Temer...
Na realidade, a pedido dela [Dilma], Michel Temer assumiu a articulação política do governo e depois ela entendeu que não era o caso de ele continuar. Em todos os momentos que ele foi chamado a colaborar, ele colaborou. Eu sou testemunha porque estive lá com ele. Mas a escolha de tê-lo convidado a colaborar na matéria do ajuste fiscal e a escolha de tê-lo afastado do trabalho da articulação política foi da presidente – e aí eu não poderia comentar.
O PT está cobrando uma posição de Temer em defesa de Dilma, mas ele já afirmou que seu papel de interlocução já terminou. Não seria esse o principal momento de fazer essa articulação política?
Essa não é mais uma atribuição formal dele e não é porque ela [Dilma] não quis. Ela resolveu pessoalmente conduzir esses assuntos. A nossa posição é constitucional, lembrando que o Michel Temer é um constitucionalista, professor de Direito Constitucional. Isso implica numa premissa que é a harmonia entre os poderes, porque a Constituição assim define. Se ele trabalhasse em desarmonia com o legislativo isso não seria bom para o país e nem para a Constituição. No momento em que ele mantém uma postura discreta e serena, mostra que confia nas instituições. Temos certeza que tanto o judiciário quanto o legislativo vão cumprir com o seu papel.
Desde a abertura do processo de impeachment pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha, o ministro da Aviação Civil Eliseu Padilha deixou o governo e o ministro do Turismo, Henrique Eduardo Alves também estaria sendo convencido a sair. Como está o clima dentro do PMDB após a abertura do processo de impeachment?
O clima é um clima de cautela. Isso porque o líder [Leonardo Picciani (PMDB-RJ)] vai procurar garantir a unidade da bancada. Ele vai identificar quais são as tendências internas da bancada entre os nossos 77 deputados e vai tentar representar na comissão essas tendências. O PMDB tem direito a oito vagas na comissão, então a expectativa é de que os nomes representam aqueles que acham que deve ser aberto um processo e o que os acham que não. Eu entendo que esse processo é muito técnico, totalmente baseado no orçamento, concentrado nas pedaladas fiscais, então deve-se buscar parlamentares que podem dialogar com esta questão. O clima dentro da Câmara é de atenção. Não de tensão, mas de atenção para que existam as garantias necessárias de que todas as tendências sejam ouvidas.
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