Há 30 anos em Curitiba, o empresário Makenson Marques, do ramo do transporte de cargas, ficou conhecido na mobilização pelas “Dez Medidas Contra a Corrupção”, na capital, quando personalizou centenas de carretas da sua frota com a temática da campanha. Nesta semana, críticas feitas por ele a políticos depois da aprovação das emendas ao pacote anticorrupção chegaram a gerar protesto entre vereadores, durante sessão na Câmara de Curitiba. Ele havia comparecido ao Legislativo após convite de uma das parlamentares da Casa.
Markenson afirmou que o que deputados fizeram na madrugada da quarta-feira (30), em Brasília, foi “assassinar mais de 2 milhões de brasileiros”. A declaração se referiu às pessoas que assinaram apoio às “Dez Medidas”. Ele mesmo, engajado no movimento anticorrupção, participou da entrega do pacote, no Congresso. “Na hora que falei que queríamos que votassem e aprovassem medidas sem alterações, fui aplaudido por muita gente. Como que agora vão lá e de dez medidas, oito eles deturparam tudo?”, questiona ele, em entrevista à Gazeta do Povo.
O empresário, que é fundador da Cargolift, observou ainda que leis mais duras devem atingir também o empresariado, mas que, precisam antes, passar pela Câmara dos Deputados e por uma mobilização da comunidade. “Mas se eles [políticos] praticam corrupção, como vão mudar isso? Então, a sociedade tem que ir para rua”, defende. Confira os principais trechos:
O senhor disse uma frase, durante participação de sessão na Câmara dos Vereadores, a respeito de como ficaram aprovadas emendas do pacote anticorrupção, que acabou repercutindo bastante. O senhor esperava que fosse daquela forma?
Na Câmara dos Deputados, para mim, foi uma decepção que fizeram naquela madrugada enquanto o Brasil chorava a morte dos chapecoenses. A corrupção mata no Brasil os mais humildes, em fila de hospital que não consegue fazer cirurgia porque o SUS está quebrado, em acidente nas estradas, porque o Brasil não consegue fazer investimentos em infraestrutura. Então, eu fiz uma correlação sim, tive coragem de fazer. O que os deputados fizeram foi tão grave como o acidente dos chapecoenses. Da mesma maneira que o acidente matou 71, a corrupção no Brasil mata mais do que 71 pessoas por ano, na fila dos hospitais, em assalto por falta de segurança, nas estradas, e isso tudo é culpa da corrupção. O que eles fizeram naquela madrugada foi assassinar 2 milhões e 600 mil de brasileiros que assinaram as medidas de corrupção e tantos outros que foram para as ruas.
Alguns vereadores se exaltaram bastante com a declaração. O senhor esperava isso?
Primeiro, que a grande maioria dos vereadores ficou do meu lado. Foi uma minoria que ficou indignada com minha fala. A Câmara, na gestão do Salamuni para cá, teve grande evolução na questão da transparência. As votações são todas nominais no painel, reduziram custo de publicidade e verba de gabinete. Estão fazendo até um bom trabalho. Meu objetivo não foi ir lá criticar os vereadores, mas usar o plenário para chamar atenção da sociedade curitibana que tem uma grande responsabilidade, já que o foco da Lava Jato está concentrado na nossa cidade. Não estou fazendo ataque a vereadores de Curitiba. Eles têm que melhorar algumas coisas, mas já evoluíram bastante nos últimos dois, três anos. Nossa preocupação é nacional, é lá em Brasília que concentra o nosso problema.
O ponto de maior preocupação nesse momento é em relação à questão do abuso de autoridade?
É. O ponto número 1 é o abuso de autoridade e o número 2 é [a decisão de] elevar para 10 mil salários mínimos para o crime se tornar hediondo. Que absurdo. Quem rouba R$ 1 e R$ 1 milhão é desonesto da mesma forma. Enquanto o crime compensar, a corrupção não acaba no país. Temos que ser extremamente duros. Quem é honesto não precisa ter medo de leis duras. Todos os deputados que estão se opondo aos limites de valores e quantidade de salários mínimos estão interessados em praticar corrupção, querem deixar valores que o crime ainda compense o tamanho da pena que ainda será pequena. Isso não pode passar.
Para o senhor, os políticos enxergam o pacote anticorrupção de uma maneira diferente dos cidadãos justamente por essa questão do benefício próprio?
Eles são inteligentes, enxergam da mesma maneira que nós. Mas estão defendendo os próprios interesses.
O senhor participou da entrega em Brasília do pacote das Dez Medidas. Como foi isso?
Eu estive lá em Brasília quando entregamos as assinaturas, fomos recebidos pelos deputados que integram a comissão. E na hora que falei que queríamos que votassem e aprovassem medidas sem alterações, fui aplaudido por muita gente. Como que agora vão lá e de dez medidas, oito eles deturparam tudo? Não pode ser. Isso é subestimar a inteligência dos brasileiros. Não vamos deixar os deputados fazerem pizza nas “Dez Medidas”. É um desrespeito à população brasileira, principalmente os mais humildes que não tem a voz que outros têm para formar opinião na sociedade.
O senhor acredita que passa pelo empresariado essa necessidade de se mobilizar, uma vez que a corrupção também atinge a esfera privada e não apenas a pública?
A maioria dos corruptores são empresários, vamos ser sinceros, não são pessoas físicas. Temos que ter um choque de ética no Brasil. Empresário tem que estar incluído nisso. Quem sonega imposto é empresário e por isso o Brasil fica sem dinheiro. Ora, temos que combater a sonegação de impostos. Para isso, temos que ter lei mais duras para com o sonegador. Eu acho um absurdo no Brasil, quando um empresário como eu, paga imposto por lucro real. Não é justo que outro possa recolher o imposto de renda por lucro presumido, não precise contabilizar nenhuma despesa de sua contabilidade. Então, uma das coisas que deveriam acontecer é que por segmento, por exemplo, todo setor de transporte rodoviário de carga, ou fica todo mundo no lucro real ou no presumido. Se não, meu concorrente compra peça para manutenção do caminhão sem nota fiscal, está praticando concorrência desleal comigo. A própria legislação brasileira incentiva isso. Quem tem que mudar isso? A Câmara dos Deputados. Mas, se eles praticam corrupção, como vão mudar isso? Então, a sociedade tem que ir para rua. Muita gente séria, de bem, cidadão, empresário como eu, vai ter que sair do anonimato e agir. Não somos políticos, mas vamos ter que agir. Minha mulher, todo o dia, tem pedido para abandonarmos o país. Mas eu não vou fazer isso, eu sou brasileiro. Tudo o que eu construí foi no meu país. Eu vou lutar para deixar um legado para minha neta, minha descendência.
Como começou seu engajamento contra corrução?
Fui convidado para participar de uma campanha que existe no mundo chamada Unashamedly Ethical, que traduzi como Corajosamente Éticos. Sou líder do movimento no Brasil, desde 2014, que incentiva as pessoas a serem éticas e corajosas. Se você for ético e ficar trancado dentro de casa, sem contrapor às vezes seu próprio parente, que pratica desonestidade, não vamos mudar a sociedade. Me engajei na campanha das “Dez Medidas” porque vi que é uma excelente ferramenta para virarmos a página no país.
E daí em diante veio a personalização das carretas?
Sim. Eu tenho 600 carretas que andam pelo Brasil. É um outdoor ambulante. Eu aproveitei algumas para propagar isso e meu maior objetivo é incentivar outros empresários do transporte a fazerem a mesma coisa. Fiquei muito feliz que a West Cargo, que transporta cargas entre aeroportos, me pediu o mesmo layout e também vai personalizar suas carretas. Recebi incentivo de outros transportadores que estão fazendo a mesma coisa. O setor de transporte de cargas, que é um dos mais prejudicados por concorrência desleal, corrupção, falta de estrutura nas estradas, é o setor que mais está sofrendo com a crise na economia. Eu espero que entre de cabeça nessa campanha.
Em algum momento, durante essa militância, o senhor recebeu alguma crítica?
Nunca recebi. É só palavra de incentivo e parabéns. Fora o que tem de gente orando para que a gente que está tendo coragem de se expor seja protegido por Deus. Então, em todas as minhas carretas, está escrito “Nós Confiamos em Deus”. Eu não temo nada, porque o meu Deus me protege.
Que encaminhamento o senhor vê como possível agora em relação às “Dez Medidas”? O senhor acredita ser realmente possível barrar as emendas no Senado?
O divisor de águas será a mobilização das pessoas dia 4 de dezembro nas ruas. Se os deputados e senadores perceberem que o povo está mobilizado da mesma maneira como se mobilizou para derrubar o governo Dilma do PT, tenho certeza que já vão reformar no Senado o que a Câmara fez nas “Dez Medidas”, deturpando-as. Não tenho dúvida que o presidente, para tentar ficar bem com a população, vai vetar. Mas nosso problema não é o presidente da República. Na hora que ele veta, pode voltar para Câmara e a Câmara pode derrubar o veto. Nossa pressão tem que ser corpo a corpo com os deputados.