Os primeiros seis meses do governo Dilma Rousseff foram difíceis para os aliados, que consideram o relacionamento político complicado, se queixam de não entender os sinais emitidos pela presidente e se sentem alijados das decisões do Executivo.

CARREGANDO :)

"Enquanto houver folga na base, não vejo muitos riscos", diz o presidente interino do PMDB, senador Valdir Raupp (RO). Contudo, a recente decisão do afastamento da cúpula do Ministério dos Transportes e a saída do ministro deixaram os aliados dos partidos menores da coalizão em alerta.

Os parlamentares ficaram em dúvida sobre qual será a reação da presidente quando tiver que afastar membros do governo. Não sabem se ela agirá rápido, como fez no caso dos Transportes, comandado pelo PR, ou moverá os aliados para defender o ministro em questão, como fez no caso do ex-ministro da Casa Civil, o petista Antonio Palocci.

Publicidade

Deputados do PR, que falaram à Reuters sob a condição de anonimato, ficaram com a impressão que Dilma terá uma postura quando o alvo de denúncias for do PT e outra quando for dos quadros dos partidos aliados.

Um senador, líder de um partido aliado, disse que a "sensação da base" é que Dilma terá duas réguas para medir deslizes. "A presidente deixou o ministro numa situação insustentável", reclamou o parlamentar pedindo para não ter seu nome revelado.

Raupp discorda. "Eu acho que cada caso é um caso. No caso do Palocci não tinha problema com dinheiro público. No caso dos Transportes era outro tipo de denúncia", argumentou.

Para o líder dos peemedebistas no Senado, Renan Calheiros (AL), "essas crises (saídas de ministros) precisam ser discutidas melhor (com a base)".

Um assessor próximo à presidente avalia que Dilma as reações foram diferentes nos dois casos, porque havia cenários diferentes. No caso de Palocci, o problema era político. No caso dos Transportes, afirmou, era um problema de desvio moral. Pesou também na decisão da presidente, segundo essa fonte, que imagem ela passaria à opinião pública.

Publicidade

Dilma, no entanto, pode ter ampliado as insatisfações na base aliada, que dava sinais de tranquilidade depois que ela prorrogou o decreto que cancelava automaticamente no último dia 30 emendas parlamentares de 2009, num valor de aproximadamente 4 bilhões de reais.

Falta de proximidade

Parte desses dúvidas da base é decorrente da falta de proximidade entre a presidente e os aliados.

Para o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), Dilma ainda está aprendendo a arte da política e por isso às vezes há sobressaltos. "Não se pode cobrar uma experiência que ela não tem ainda. O Lula chegou onde chegou depois de perder três eleições", afirmou.

Segundo ele, antes a base tinha um "Pelé na política". "Quando a coisa estava ruim a gente tocava para ele e ele resolvia. Agora, não temos. E temos que aprender a jogar mais em conjunto", comparou. Alves, que está na Câmara há 11 mandatos consecutivos, afirmou que ainda não dá para dizer se o estilo político de Dilma é melhor ou pior.

Publicidade

"Isso é o tempo que vai dizer", afirmou. Contudo, ele concorda que os primeiros meses de Dilma estão marcados pela dificuldade política e pela queda de ministros. "Mas acho que isso vai dando experiência também", concluiu.

Os aliados esperam desde o início do governo uma relação mais estreita da presidente com as bancadas do Congresso. Mas Dilma só fez duas reuniões do Conselho Político, que reúne líderes e presidentes dos partidos aliados. A primeira foi um encontro de apresentação e na segunda mostrou o esboço do programa Brasil sem Miséria.

Dilma também tem usado pouco a influência do vice-presidente Michel Temer no Congresso, segundo auxiliares do peemedebista. "Só agora ela passou a conversar uma vez por semana com os presidentes da Câmara e do Senado. Na época do Lula, essas conversas eram diárias", afirmou a fonte que falou sob a condição de anonimato.

"O importante é que ela deixe claro o caminho que vai trilhar, porque daí vemos as pedras e temos como removê-las", afirmou Alves.

Publicidade