STF para investigar Renan, que reage à nova denúncia

O procurador-geral da República, Antônio Fernando de Souza, pediu na sexta-feira ao Supremo Tribunal Federal (STF) a abertura de inquérito para investigar as contas do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), acusado de ter despesas pessoais pagas por um lobista e de usar notas frias para comprovar rendimentos, informa o colunista Ricardo Noblat em seu blog. Cabe ao Supremo autorizar ou não a abertura do inquérito. O presidente do Senado afirmou, por sua vez, que foi ele quem pediu à procuradoria que abrisse uma investigação para que pudesse esclarecer todas as denúncias. Renan disse que enviou uma carta ao procurador e à imprensa, que não quis publicá-la.

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Acuado por uma série de denúncias na imprensa, submetido ao Conselho de Ética e ameaçado por uma rebelião no plenário, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), decidiu acusar seus acusadores.

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Em carta enviada aos senadores nesta segunda-feira, Renan diz que estaria sendo usado como "cortina de fumaça" para encobrir a venda da TVA (emissora por assinatura em São Paulo, Rio de Janeiro e sul do país) do grupo Abril (que edita a revista Veja) para a Telesp, controlada pelo Grupo Telefônica .

"Talvez fosse o caso de investigar o negócio bilionário que se deseja manter na obscuridade", afirma Renan na carta, sem explicar o eventual nexo entre as reportagens da revista e o negócio da TV por assinatura.

No dia 18 de julho a Anatel concedeu anuência prévia para a transação - no valor de 922 milhões de reais -, mas exigiu mudanças na proposta de acordo de acionistas, de forma que a Telesp não se transforme ao mesmo tempo em operadora de telefonia e controladora de TV por assinatura em São Paulo.

"A autorização da Anatel não foi unânime e ainda tem de ser submetida ao CADE. Como se trata de uma concessão, o Congresso também poderá examinar esse negócio com uma empresa estrangeira", disse Renan.

A reação de Renan coincide com mais uma reportagem da revista Veja, acusando-o de controlar emissoras de rádio por meio de "laranjas", e um pedido do procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, para que o Supremo Tribunal Federal investigue o presidente do Senado.

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De acordo com a revista, Renan seria sócio oculto de uma empresa de comunicação em Alagoas, pela qual teria pago 1,3 milhão de reais em dinheiro. O senador nega e diz que seu filho, também chamado Renan, é que tem participação acionária na empresa JR Comunicação.

"Eu sou um sub-alvo de denúncias mentirosas, ditadas por interesses paroquiais de Alagoas e de uma parte da oposição no Senado, que não se conforma com a popularidade do presidente Lula, de quem sou aliado", disse Renan a jornalistas.

O líder do DEM (ex-PFL) no Senado, José Agripino (RN), propôs um boicote às votações no plenário enquanto Renan Calheiros presidir as sessões.

"Não vou abrir mão de defender a dignidade da casa. Não podemos passar ao país a idéia de que estamos em paz, porque aqui estamos constrangidos, e muito", disse Agripino na tribuna.

Para Renan, o líder do DEM, derrotado por ele nas eleições de fevereiro, estaria buscando uma nova chance de disputar a presidência do Senado. Adversários políticos de Alagoas, como os ex-senadores João Lira (PTB) e Heloísa Helena (PSOL), também estariam interessados na difusão de denúncias, segundo Renan.

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"Como as primeiras acusações já foram rebatidas, agora fabricam outras, no embalo das maledicências provincianas e do ressentimento dos derrotados", afirmou na carta aos senadores.

De acordo com a assessoria do procurador-geral da República, o pedido de abertura de inquérito apresentado sexta-feira ao STF visa a apurar os alegados negócios de Renan Calheiros na compra e venda de gado, sobre os quais há suspeitas de sonegação, fraude e falsidade ideológica.

"A PGR solicita a investigação dos aspectos criminais do que está em exame no Conselho de Ética do Senado", disse uma porta-voz do procurador.

A assessoria confirmou que, no dia 10 de julho, Renan Calheiros enviou ofício ao procurador Antonio Fernando, solicitando que investigasse os documentos sobre compra e venda de gado.