Os investigadores da Operação Lava Jato pediram ajuda ao juiz Sergio Moro para pagar consertos de carros e contas de luz da Superintendência da Polícia Federal em Curitiba no ano passado. O juiz autorizou a liberação de R$ 172 mil recuperados pela Justiça do Paraná e disse que as investigações não poderiam ser “interrompidas por falta de dinheiro para despesas básicas”. O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, no entanto, negou que tenha havido falta de verba:
“Não faltou verba nenhuma. Tanto que a Superintendência do Paraná devolveu R$ 3 milhões no final do ano passado”, afirmou Cardozo.
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O ministro afirmou que o Ministério da Justiça não recebeu nenhum pedido para a liberação de verbas. Segundo ele, todas as unidades passaram pelo contingenciamento normal (corte) de gastos, mas ressaltou que não faltou dinheiro para a Lava Jato: “Ano passado, como nos anos anteriores, houve um contingenciamento de gastos. Nós vamos liberando à medida da necessidade. Quando uma unidade está com o problema, a gente faz o descontingenciamento. Na PF nunca deixamos de atender nada. Nem na Lava Jato. Se tivessem pedido, os recursos estariam lá. Tanto que o dinheiro sobrou”.
“Embora não seja muito apropriado a destinação dessas verbas para custeio, as investigações da Lava Jato, por sua relevância, não podem ser interrompidas por falta de dinheiro para despesas básicas de custeio.”
Outra investigação
A PF de Curitiba não se manifestou sobre as afirmações do ministro da Justiça. Os recursos usados para pagar os custeios da manutenção da sede da corporação em Curitiba saíram de uma conta judicial ligada a outro caso de lavagem de dinheiro investigado no Paraná: o Banestado. A informação sobre a liberação de recursos por Moro foi publicada pelo site da revista Veja.
A verba foi depositada pelo doleiro Hélio Laniado, em 2006, como parte de um acordo de delação premiada assinado com a Justiça. Laniado e o doleiro Alberto Youssef formaram o núcleo financeiro do esquema responsável pela lavagem de dinheiro e pela evasão de divisas que movimentou mais de US$ 1,2 bilhão entre 1995 e 2002.
Em 2014, a Superintendência da PF de Curitiba enviou ofício a Moro pedindo autorização para usar R$ 1 milhão, recuperado pelo acordo, para melhorar a estrutura da corporação no Paraná. A ideia era implantar um sistema de câmeras de vigilância e alarme para unidades da PF no estado. O juiz autorizou.
Em novembro do ano passado, a PF mandou outro ofício pedindo que parte dos recursos fosse usado para pagar contas de luz e ajudassem na manutenção de veículos. Moro autorizou com um alerta: “Embora não seja muito apropriado a destinação dessas verbas para custeio, as investigações da Lava Jato, por sua relevância, não podem ser interrompidas por falta de dinheiro para despesas básicas de custeio”, afirmou o juiz no despacho.
O corte de R$ 133 milhões no orçamento da PF em 2016 preocupa entidades ligadas ao órgão. A Associação dos Delegados da PF (ADPF) disse que a restrição de verbas poderá afetar até as operações hoje priorizadas, como a Lava Jato e a Zelotes, devido à dificuldade de pagar diárias e passagens aos policiais.
Cardozo negou e afirmou que a dificuldade orçamentária que atinge a PF não afetará a investigação da Lava Jato. Também disse que a instituição é prioridade da pasta e atacou a associação, que, para ele, divulga factoides sobre a real situação financeira da PF.
“A Polícia Federal tem sido total prioridade do Ministério da Justiça. Esse é o compromisso que temos e que todos conhecem. Jamais faltará verba para a Lava Jato ou qualquer outra operação ou projeto estratégico da Polícia Federal “, disse o ministro. “Por mais que uma entidade classista venha levantar factoides, quem conhece a elaboração do orçamento sabe que os recursos serão assegurados ou por meio de portaria do Ministério do Planejamento ou por realocação interna do próprio Ministério da Justiça”.
Em nota, a pasta já informara que, apesar das dificuldades econômicas, o orçamento da PF este ano (R$ 5,5 bilhões) ficará acima do executado em 2015.
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