Com dificuldade para garantir votos contrários ao processo de impeachment contra a presidente da República Dilma Rousseff, aliados agora apostam na abstenção ou na ausência de parlamentares que não estão confortáveis em nenhum dos lados.
Nos bastidores, eles estão sendo apelidados de “nem, nem”, ou seja, “nem Dilma, nem Temer”. Para o impeachment passar na Câmara dos Deputados, a oposição precisa ter no mínimo 342 votos.
Mais fortemente de uma semana para cá, aliados e a própria presidente Dilma já trabalham contra o nome do vice-presidente, Michel Temer (PMDB). Temer tem sido chamado de “golpista” e “conspirador”. O documento “Ponte para o Futuro”, lançado por ele no ano passado, no qual defende um duro ajuste fiscal, também tem sido criticado pelo PT. A ideia é enfraquecer Temer e convencer indecisos de que o peemedebista não é a “solução”.
A estratégia ocorre em meio a uma crescente pressão dos partidos pró-impeachment contra seus dissidentes. Na Câmara dos Deputados, a presidente Dilma tem o apoio formal apenas das bancadas do PT, PDT, PCdoB, PTdoB e Psol, que, juntas, somam cerca de 100 parlamentares.
Todas as demais bancadas já orientaram a favor do impeachment. Portanto, para barrar o avanço do processo no Congresso Nacional, a presidente Dilma tem que necessariamente contar com dissidentes.
Com exceção do núcleo duro da oposição – PSDB, DEM, PPS e SD -, onde há um voto uniforme pelo impeachment, nos demais partidos ainda há alguns dissidentes.
Em algumas legendas, embora tenha ocorrido a orientação formal pelo voto a favor do impeachment, não foi aprovada nenhuma punição caso o parlamentar não endosse a posição da sigla. Ou seja, os filiados estariam livres para votar. É o caso do PSD, por exemplo.
Outros, contudo, estão partindo para o “fechamento de questão”, quando o parlamentar é obrigado a votar na orientação partidária para não ser punido. Após ver filiados negociando cargos mesmo após o desembarque da base, o PP resolveu “enquadrar” seus dissidentes.
Reunida no final da tarde desta sexta-feira (15), a bancada do PP decidiu “fechar questão” a favor do impeachment, o que na prática “enquadra” os sete pepistas da bancada de quase 50 parlamentares que ainda insistiam no voto contra a destituição.
Entre eles está o deputado federal pelo Paraná Nelson Meurer, que acha “injusto” o impeachment, mas alega que vai seguir a determinação do partido para não ser prejudicado na eleição de outubro, quando trabalhará para eleger prefeitos e vereadores aliados. “O que eu posso fazer? Tenho que seguir o partido”, disse Meurer.
A eleição deste ano será a primeira sem doação de empresas a candidatos, o que leva políticos a dependerem do fundo partidário, geralmente controlado pelas cúpulas das legendas.
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