Mensagens interceptadas pela Polícia Federal mostram que o vice-presidente da Câmara dos Deputados, André Vargas (PT-PR), e o doleiro Alberto Youssef atuaram em parceria para tentar viabilizar a assinatura de um contrato entre uma empresa de Youssef e o Ministério da Saúde. Em diálogo descrito em relatório da PF, realizado em 19 de setembro de 2013, Youssef chega a dizer a Vargas que o negócio junto ao ministério garantiria a "independência financeira" de ambos. As informações estão em matéria publicada neste sábado pela revista "Veja".
O objeto da conversa era um contrato que a empresa Labogen, pertencente ao doleiro, tentava assinar com o Ministério da Saúde para fornecer medicamentos. Como tem estrutura pequena, para conseguir firmar o contrato com o governo a firma precisaria se associar à EMS, empresa farmacêutica especializada na produção de medicamentos genéricos, de acordo com a revista.
No diálogo, Vargas diz ao doleiro ter encontrado um integrante da Labogen, Pedro Argese, que o teria informado sobre a proximidade de conclusão da parceria com a EMS.
"Estamos mais fortes agora. Vi o documento com o Pedro. Ele estava no voo de volta de Brasília", escreveu Vargas, mencionando documento de parceria com a EMS.
Youssef respondeu Vargas: "Cara, estou trabalhando, fica tranquilo, acredite em mim. Você vai ver quanto isso vai valer tua independência financeira e nossa também, é claro."
No dia seguinte, 20 de setembro de 2013, Youssef teria enviado uma nova mensagem ao deputado petista, relatando dificuldades para manter os negócios do grupo.
"Estou enforcado. Preciso de ajuda para captar... Tô no limite", escreveu.
Na mesma conversa, Vargas respondeu: "Vou atuar."
Segundo a revista, no mesmo dia, técnicos do Ministério da Saúde foram destacados para certificar a Labogen, informação confirmada por Youssef em nova mensagem para Vargas.
O contrato do ministério com Labogen e EMS chegou a ser assinado, tendo como objeto a produção de comprimidos de cloridrato de sildenafila (o Viagra), indicado no tratamento de hipertensão pulmonar.
Há uma semana, entretanto, quando as suspeitas levantadas pelas investigações da PF vieram à tona, o Ministério da Saúde informou que o contrato seria cancelado. Nenhum pagamento teria sido realizado para as empresas, de acordo com o órgão, que abriu sindicância para apura o envolvimento do diretor de inovação da pasta, Eduardo Jorge Oliveira, no episódio relatado.
Na última quarta-feira, em discurso na Câmara, Vargas, disse nunca ter estado no Ministério da Saúde para tratar dos interesses da Labogen. Ontem o deputado divulgou nota oficial em que informa ter "uma relação de amizade com Alberto Youssef de muitos anos", mas considerava que "ilações decorrentes disso" estariam "servindo de julgamento pela imprensa, com fatos do passado, usando informações do presente".
Por telefone, Vargas negou que o doleiro tivesse oferecido "qualquer vantagem financeira a ele". Alberto Youssef está preso desde 17 de março.
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