A presidente da República Dilma Rousseff (PT), afastada do cargo desde maio, confirmou que apoiará a realização de um plebiscito sobre a possibilidade de antecipar as eleições gerais, caso ela retorne ao cargo. “Para enfrentar a crise, o único caminho é a democracia”, disse ela. Apesar dessa tentativa, de criar um novo argumento contra o impeachment, todo o restante do conteúdo do documento foi praticamente uma repetição dos discursos feitos pela presidente até aqui.
A carta foi lida por Dilma na tarde desta terça-feira (16), no Palácio da Alvorada, na presença da imprensa. Com a proximidade da etapa final do processo no Senado, ela voltou a enfatizar que considera seu impeachment injusto, porque não cometeu crime de responsabilidade, apenas “atos legais, necessários, de governo, iguais aos cometidos pelos antecessores”. Sem crime de responsabilidade, afirma ela, trata-se de um “golpe”. “Não existe injustiça mais devastadora do que condenar um inocente”, continuou ela, ao lembrar do período de cárcere e tortura, durante a ditadura militar.
Ela também atacou a oposição. Voltou a dizer que é honesta, ao contrário daqueles que deflagraram o impeachment - “não tenho conta secreta, nunca desviei dinheiro, nem recebi propina” - e que, desde o início do seu segundo mandato, medidas levadas por ela para superar a crise foram “bloqueadas” na lógica do “quanto pior, melhor”.
Apesar disso, logo no início da carta, a petista já havia reconhecido erros em sua gestão. “Ouvi críticas duras e acolho com humildade”, disse ela, na única referência que fez ao período de afastamento – de maio até aqui.
Protocolar
Ao lado de um grupo pequeno de ex-ministros, a presidente Dilma chegou à Sala dos Estados, reservada para o pronunciamento, com quase 50 minutos de atraso. Ela teria esperado o término do jogo da seleção feminina de futebol nas Olimpíadas do Rio, que avançou para os pênaltis.
“Infelizmente nós não ganhamos”, comentou ela com os jornalistas, logo após se posicionar em frente ao microfone. Foi a única manifestação fora do roteiro: a presidente Dilma apenas leu a carta e, na saída, se calou ao ser questionada se irá pessoalmente ao Senado fazer sua defesa, no final do mês.
Apoio a um plebiscito, que não é consenso nem dentro do PT
A presidente Dilma já havia se manifestado a favor do plebiscito, mas setores do PT, incluindo o próprio presidente nacional da sigla, Rui Falcão, eram resistentes à ideia, daí a dúvida se a petista de fato abarcaria a questão na carta, o que acabou se confirmando.
O compromisso com o plebiscito seria uma maneira de a presidente Dilma admitir problemas em sua gestão, sem “legitimar” a posse do vice, Michel Temer (PMDB). Com isso, a expectativa era atrair apoio de parlamentares que também não defendem a permanência do peemedebista.
Na prática, contudo, o efeito não deve ser sentido no Senado, onde o governo Temer já conseguiu consolidar uma ampla base de apoio.
Além do plebiscito, outro compromisso seria “o apoio irrestrito” a uma “ampla reforma política e eleitoral”, acrescentou ela.
Assista à leitura da carta no Palácio da Alvorada
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