Cinco anos separam o ápice do casal Gleisi Hoffmann e Paulo Bernardo do golpe que os abateu na quinta-feira (23), com a prisão do ex-ministro por causa dos desdobramentos da Operação Lava Jato. Em junho de 2011, a senadora paranaense foi alçada pela presidente Dilma Rousseff à chefia da Casa Civil, em substituição a Antonio Palocci. Gleisi, que assumiu o cargo com a atribuição de gerenciar os projetos de infraestrutura do Planalto, formou o primeiro casal ministerial da história do Brasil com Bernardo, que na época era ministro das Comunicações.
Quando assumiu a Casa Civil, Gleisi estava há pouco tempo no Senado, onde já havia chamado atenção pela produtividade – três projetos de sua autoria foram aprovados na Casa em quatro meses – e pela combatividade – interpelava os opositores e não deixava passar batido nenhuma crítica à gestão de Dilma. Apesar da posição aguerrida, foi bastante elogiada pelos seus pares, mesmo da oposição, quando deixou a Casa rumo à Esplanada.
V. Exª, senadora Gleisi, preparada, competente, que recebe, hoje, as homenagens não apenas da Presidente da República, mas de toda a sociedade brasileira
Com a crise instalada no Planalto após as suspeitas de enriquecimento ilícito de Palocci, o nome de Paulo Bernardo era cotado para assumir a Casa Civil. Ele já tinha ocupado o cargo de ministro do Planejamento no governo Lula, entre 2005 e 2011. Assumiu as Comunicações após a posse de Dilma, cargo no qual permaneceu durante quatro anos.
Gleisi ficou menos tempo: deixou o Planalto em fevereiro de 2014, a tempo de voltar ao Senado e tentar alavancar sua candidatura ao governo do Paraná. Ela ficou apenas em terceiro lugar na disputa, com 881,8 mil votos, atrás do senador Roberto Requião (PMDB), com 1,6 milhão de votos, e do governador reeleito Beto Richa (PSDB), vencedor já no primeiro turno, com 3,3 milhões de votos.
Senadora Gleisi, eu quero felicitar V. Exª e cumprimentar a presidenta Dilma pela feliz escolha. V. Exª é a grande revelação desta Legislatura e nos conquistou, a todos, com a sua simpatia, com seu profundo conhecimento dos programas do governo federal e com a sua capacidade de diálogo
O desgaste do PT já era evidente nesta época. Quando se candidatou ao Senado em 2006, quase roubou a cadeira do veterano Álvaro Dias, numa campanha de trajetória ascendente. Naquele ano, Gleisi recebeu 2,2 milhões de votos. Em 2010, quando duas cadeiras de senador foram disputadas, foi eleita em primeiro lugar com 3,1 milhões de votos, seguida por Requião (2,6 milhões).
Carreiras
Paulo Bernardo atuou em todas as campanhas de Gleisi. Em 2006, quando ela começou as disputas, ele deixou de concorrer. Anteriormente, foi deputado federal do Paraná por três mandatos, entre 1995 e 2006.
Atuaram juntos também no governo do Mato Grosso do Sul entre 1999 e 2000, como secretários estaduais de Zeca do PT, e na prefeitura de Londrina entre 2001 e 2002, como secretários municipais do também petista Nedson Micheleti. Paulo Bernardo concorreu e foi eleito para a Câmara dos Deputados e Gleisi compôs a equipe de transição do presidente Lula.
Em 2003, Bernardo foi para Brasília e Gleisi, para Foz do Iguaçu, onde assumiu a diretoria financeira de Itaipu. Foi convidada por Jorge Samek, o qual havia assessorado na Câmara Municipal de Curitiba.
Primeira menção a Gleisi e Bernardo na Lava Jato foi ainda em 2014
Os nomes de Gleisi Hoffmann e Paulo Bernardo apareceram nas investigações da Operação Lava Jato já no início das investigações, no primeiro semestre de 2014. O doleiro Alberto Yousseff e o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa afirmaram, em delação premiada, que dinheiro desviado do esquema teria abastecido a campanha de Gleisi ao Senado em 2010, e que Bernardo atuava como “operador” do esquema.
O caso que levou Bernardo à prisão na quinta-feira (23), porém, é outro. A operação, batizada de Custo Brasil, investiga o suposto pagamento de propinas em contratos de empréstimo consignado do Ministério do Planejamento. O total de dinheiro desviado entre 2009 e 2015 somaria R$ 100 milhões, segundo as investigações.
A operação desta semana foi deflagrada por uma força-tarefa em São Paulo, como desdobramento da 18.ª fase da Lava Jato. Segundo os investigadores, um escritório de advocacia de Curitiba ligado a Paulo Bernardo recebeu entre 2009 e 2015 pelo menos R$ 7 milhões do esquema. Desse total, 20% ficava com o escritório e 80% seria destinado ao pagamento de despesas do ex-ministro. As estimativas apontam que Bernardo teria recebido R$ 5,6 milhões.
Há suspeitas de envolvimento de Gleisi nesse esquema, mas a investigação sobre ela corre no Supremo Tribunal Federal (STF), por causa do foro privilegiado. Uma segunda investigação sobre Gleisi e Bernardo corre conjuntamente no STF. Essa diz respeito à denúncia de recebimento ilícito de R$ 1 milhão na campanha feita por Youssef e Costa em delação premiada.
Milei completa um ano de governo com ajuste radical nas contas públicas e popularidade em alta
Lula cancela agenda após emergência médica em semana decisiva no Congresso
Congresso prepara uma nova fatura para você pagar – e o governo mal se move
Prêmio à tirania: quando Lula condecorou o “carniceiro” Bashar al-Assad