A briga em torno do transporte coletivo de Curitiba é mais importante do que pode parecer à primeira vista. É briga de foice, e pode decidir os rumos da carreira de três dos políticos mais importantes do estado. Uma das opções é que eles cheguem a um acordo e sejam todos felizes para sempre (o que não necessariamente é bom para a população como um todo). Mas o mais provável, a essa altura, é que um deles fique pelo caminho.
Tem dois motivos básicos para a disputa ser tão importante. Um deles: o sistema mexe com muito dinheiro, mais de R$ 1 bilhão por ano. Não tem nada mais caro na prefeitura de Curitiba e há pouquíssimos negócios do mesmo valor no governo do estado. Segundo: mexe com muita gente. E mexe inclusive com a classe média, ao contrário do que ocorre com outros serviços do município (quem tem mais grana dificilmente põe os filhos na creche pública, mas tem muito mais probabilidade de pegar ônibus, ainda que seja de vez em quando).
Fruet se elegeu em grande parte com o voto (e a influência) da classe média. Se tiver que elevar demais a passagem para custear sozinho o sistema, estará enfiando a faca justamente em quem lhe deu o cargo. Do ponto de vista político, isso é inaceitável para Fruet, que já não anda lá com essa popularidade toda. Por isso, ele precisa jogar o problema nas costas de Richa. Ainda mais que Richa colocou na gestão do problema o grande adversário de Fruet em 2016: Ratinho Jr.
Para Richa, o problema também não é desprezível. Como bem lembrou ontem nesta Gazeta o repórter Euclides Lucas Garcia, o atual governador fez boa parte de sua carreira manipulando os preços das tarifas de ônibus. Baixou o valor quando precisava e ficou de bem com o eleitorado. Assim, conquistou dois mandatos de prefeito e se cacifou para o governo. Claro que, com isso, ajudou a criar o buraco que hoje precisa ser tapado.
Do ponto de vista de Richa, o que importa é, primeiro, não perder o rico dinheirinho dos cofres estaduais com mais subsídio. Já mandou cortar para um terço do que pagava até o mês passado. E, segundo, mas aqui trata-se apenas de especulação, pode querer mostrar para Fruet que o único caminho para ter um final de gestão tranquilo e mais facilidade de reeleição seria uma reaproximação entre as partes. O prefeito aceita Richa como seu padrinho e ganha direito a favores políticos como recompensa.
O terceiro elemento da disputa, Ratinho Jr., também tem seu destino ligado ao ônibus.Se o prefeito, em nome da "governabilidade", aderir ao grupo de Richa, certamente Ratinho não poderia ser candidato em 2016, mesmo tendo já de saída quase 40% das intenções de voto. Seria obrigado a esperar e a apostar todas as fichas numa possível eleição para o governo do estado em 2018.
E o passageiro? Claro, que, no fundo, é isso que interessa. Uma possível conciliação entre as partes poderia ser a garantia de um sistema mais sólido, com subsídio maior e, portanto, menor risco de greves e paralisações, entre outros problemas. Mas o passageiro também é cidadão e precisa se preocupar com outra coisa: se Fruet, que é o último resquício de oposição visível a Richa no momento, aderir ao projeto do governador, estaremos num estado em que todos são amigos de todos, sem fiscalização ou dissidência com pouquíssimas exceções, e cada vez menos poderosas. E isso é ruim para a democracia.
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