Quer fazer um vereador feliz? Arranje um buraco numa rua do bairro dele. Assim, ele vai poder apresentar um requerimento para que a prefeitura conserte. Mas, claro, só depois que os vizinhos vierem pedir. Assim, ele ficará com a fama de ser o cara que resolveu o problema. E, sem dúvida, poderá lembrar isso a todos quando precisar de votos na próxima eleição.
Os buracos de rua são a melhor arma para os vereadores se elegerem. Assim como a troca de lâmpadas queimadas em postes, a poda de árvores, a colocação de uma faixa de pedestres... Ou, pelo menos, são essas as armas que eles mais usam, conforme mostrou reportagem desta Gazeta publicada na semana que passou.
No total, os vereadores de Curitiba apresentaram 15 mil requerimentos desse gênero para a prefeitura somente em 2010. Isso significa que para cada projeto relevante (descontadas as homenagens, prêmios, etc), são mais de 120 requerimentos feitos.
Nos últimos dois meses, por exemplo, os vereadores curitibanos solicitaram mais de 500 operações tapa-buracos espalhadas pela cidade. As informações são do próprio site do Legislativo municipal. Foram 287 em abril e 228 em maio. Caso a prefeitura atenda a todos os pedidos, é claro, isso se transformará em votos.
E aí entra o aspecto da história que mais prejudica a população. Para conseguir as "obras" e poder fazer propaganda para seus vizinhos, o vereador depende da prefeitura. Afinal, a Câmara não tem asfalto, betoneira nem licença para fazer qualquer obra pela cidade. E isso claramente amarra o trabalho do vereador à boa vontade que o prefeito de plantão tenha com ele.
No passado recente, a Câmara de Curitiba tem sido absolutamente serviente aos interesses de cada prefeito que passa pelo Palácio 29 de Março. Lembre-se sempre a sessão que os vereadores marcaram para um sábado, às pressas, para "desvotar" o projeto de transporte coletivo que tinham votado em 2007. A prefeitura não gostou do resultado da votação e os vereadores foram chamados às pressas para mudar de opinião. E mudaram.
Quem sai mal da história é o cidadão comum, que ganha um antipó na porta de casa de vez em quando mas que não tem um fiscalizador da prefeitura. Ganha um despachante do Executivo para seu bairro, mas perde o poder de reclamar do prefeito ou de tentar saber o que é feito com seu dinheiro pago em impostos.
Neste ano, quando estourou o escândalo da Consilux, tentou-se montar uma CPI na Câmara para saber o que exatamente havia de errado no contrato de radares que vige na cidade. Claro: os vereadores se recusaram a assinar. Disseram que era uma tentativa de politizar o assunto. Como se eles não fossem políticos. E como se a função constitucional de um vereador não fosse fiscalizar a prefeitura.
Mas eles preferem, ao invés de descobrir buracos no orçamento público, descobrir buracos na rua do vizinho. Assim, garantem mais um mandato. Garantem o salário alto. Garantem o poder. E até, como mostrou a reportagem de Elisa Lopes e Mariana Scoz nesta semana, uma viagenzinha para o exterior de vez em quando. Tudo pago pelo dinheiro do contribuinte.
Benditos buracos na rua.
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