Todo mundo sabia que os moradores de rua seriam um dos temas da eleição curitibana. Rafael Greca, a seu estilo, quando chamado para a primeira sabatina da Gazeta do Povo, em janeiro, sapecou logo a primeira piadinha sobre o tema: “Mas como eu vou chegar na Carlos Gomes? Vou ter que sair pulando por cima dos mendigos”.
Na época, Fruet enfrentava um pesadelo com a história dos moradores de rua. Um empresário, num momento de higienismo, chegou a pedir que tirassem a população de rua à força, para não atrapalhar o comércio. Pululavam notícias como a de um comerciante que inventou um meio de molhar a calçada à noite para que ninguém dormisse à sua porta.
Curiosamente, a história acabou se voltando a favor de Fruet e contra Greca. Tudo graças à boca grande do ex-prefeito. O Palácio Iguaçu já estava contando vantagem que seu candidato ia ganhar a eleição de Fruet como quem tira doce de criança. E de repente Greca, para não perder a piada, decidiu perder o eleitor.
Agora, Greca tenta remar tudo de novo. Diz que foi um engano, um erro de comunicação. E parece que, no fundo, foi isso mesmo. Ele poderia ter contado exatamente a mesma história sem parecer ofensivo. Era só dizer: o trabalho de assistente social é duro. Quem vive nas ruas muitas vezes enfrenta condições tenebrosas, doenças, falta de higiene. Para quem não está acostumado, até conviver com essas pessoas, independente do tamanho da boa vontade é difícil, etc.
Na segunda-feira (26), no debate entre Trump e Hillary Clinton, o candidato dos republicanos voltou a fazer o que se espera dele: falou bobagem. Deu a entender, por exemplo, que a China deveria invadir a Coreia do Norte (!) e que os Estados Unidos deveriam parar de defender países aliados (!!). Quando voltou a sua vez, Hillary, sorrindo, disse simplesmente que “palavras importam” e que quem quer ser presidente dos EUA devia saber disso.
Seja quem for o próximo prefeito de Curitiba, é necessário aprender essa lição: palavras importam. Na época da campanha, pelo menos, os candidatos costumam ser mais cuidadosos com o que dizem. Se nem na campanha se preocupam com isso, imagine depois de chegarem ao cargo e terem a garantia de que permanecerão por lá durante quatro anos, sem precisar de aval de mais ninguém.
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Depois da gafe de Greca, todos os candidatos saíram abraçando mendigos pela cidade. Claro, com fotógrafos e cinegrafistas devidamente a postos. Maria Victoria (PP) foi à Praça Tiradentes gravar com moradores de rua e vender seu projeto de dar uma cama fixa para cada um nos abrigos.
Ney Leprevost (PSD) também acusou a atual gestão de deixar a população de rua aumentar, apertou a mão de pessoas dormindo no Centro e disse, apelando para o velho clichê, que é preciso “ensinar a pescar”, e não apenas “dar o peixe”.
Como se os moradores de rua não tivessem problemas suficientes, agora têm que ficar sendo garoto-propaganda dos candidatos.