Em 2005, o presidente Lula foi apresentado a uma ideia revolucionária: um computador portátil que custaria US$ 100 para ser distribuído a todos os alunos da rede pública brasileira. Os burocratas pediram 30 dias para analisar o projeto. Lula, para dar a entender que o caso merecia pressa, resolveu fazer uma bravata. Não podia esperar o mês inteiro, queria a resposta em 29 dias.
O desenrolar do processo mostrou que a pressa era de brincadeirinha. Foram necessários cinco anos só para fazer a licitação dos computadores. Que, aliás, não saíram por US$ 100, e sim perto de US$ 300. Lula, que estava ainda em seu primeiro mandato quando recebeu a proposta do professor Nicholas Negroponte, do MIT, acabou anunciando o resultado da licitação apenas no último ano de seu segundo mandato.
Se há uma boa notícia na história toda é que agora, finalmente, a coisa parece estar andando. O projeto piloto, para 150 mil alunos, começou a distribuir os pequenos laptops. Ainda são poucos os beneficiados. No Paraná, por exemplo, só uma cidade tem 100% de atendimento: Santa Cecília do Pavão. Em Curitiba, a única participante é a Escola Estadual Gottlieb Mueller, no Hauer, com 792 alunos.
Onde os computadores chegaram, fazem diferença. Até porque os laptops são levados para casa. "Não são só os alunos. As famílias antes não tinham acesso a computador e agora têm", diz a secretária de Educação de Santa Cecília, Marinês Aparecida dos Santos Almeida. Para ela, o que falta melhorar, agora que as máquinas estão na mão dos alunos, é a assistência técnica. Quando o computador dá defeito, é preciso achar uma solução improvisada para que a máquina volte a andar.
A cobrança para que o projeto ande mais rápido é necessária porque a ideia tem potencial para mudar substancialmente a vida das crianças, especialmente das que vivem em famílias de renda mais baixa.
Educação boa (com bons professores, principalmente) é fundamental. E a tecnologia passou a ser um elemento necessário na educação. Não são todos que têm computador em casa. E quem não aprende informática pode ficar excluído de boa parte da vida mais tarde. Os melhores empregos, por exemplo, podem ficar inacessíveis. Assim como os melhores salários.
É o típico caso em que o Estado tem o dever de botar todos os cidadãos num ponto de partida equivalente, para que a corrida já não comece com alguns muito à frente dos outros. O investimento, por caro que seja, ajuda a tornar o país mais igualitário e mais justo.
O problema é a demora do governo em fazer a coisa andar. Um aluno que tenha entrado na primeira série da escola fundamental no ano da bravata de Lula, por exemplo, está a dois anos hoje de entrar no ensino médio. Sabe-se lá se verá o tal computador antes de entrar na faculdade.
Quando veio ao Brasil dizer que não cobraria nada caso o país aceitasse implantar sua ideia, o professor Negroponte, uma sumidade internacional, elogiou o governo brasileiro pela ousadia. Disse que governos não costumam investir em ideias de longo prazo para a educação porque os resultados só aparecem depois de 20, 40 anos, quando aquele governante que tomou a iniciativa já não está no poder para colher os frutos.
Mal sabia ele que por essas bandas o tempo corre diferente. Um terço dos vinte anos se passaram e ainda estamos apenas no projeto piloto. Os resultados? Sabe-se lá quando é que vêm.
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