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Durante o regime de Stalin, na União So­­viética, especialistas do Ocidente passavam horas olhando as poucas imagens disponíveis de Moscou para fazer exercícios de adivinhação. Vendo quem estava mais perto do primeiro plano, por exemplo, tentavam prever quem estava de bem com o ditador. Especulavam assim sobre quem seria o seu sucessor. O exercício se tornou necessário porque o regime era fechado e só se descobria algo lendo nas entrelinhas.

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Descobrir que avião comprou a Copel na semana passada exige um exercício semelhante. É preciso ver qual a empresa que ganhou o pregão (a Líder, de Belo Horizonte); qual empresa ela representa no Brasil (a Beechcraft); e finalmente ver os detalhes do edital para perceber que ele se encaixa em um dos modelos da companhia (o King Air 250).

O exercício é necessário nesse caso porque a Copel, estranhamente, se recusa a falar sobre o assunto. Integrante de um governo que se diz adepto do diálogo e da transparência, a diretora de gestão corporativa da empresa, Yara Eisenbach, foi designada para falar sobre o assunto. Mas não fala. Nem mesmo para confirmar que o modelo comprado foi esse. Será pelo fato de um deputado do PT ter dito, em dezembro, que a licitação estava dirigida para esse exato modelo?

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Complicações

O fato é que helicópteros e aviões costumam trazer complicações para o governo de Beto Richa no noticiário. A maldição começou em março passado, quando se descobriu que Richa fez um contrato sem licitação com a Helisul para aluguel de um jato e um helicóptero. Um mês depois, outro helicóptero que levava Richa a uma reunião com banqueiros não informada ao distinto público pifou e fez um pouso de emergência.

Ontem, o governador tentou se livrar de mais uma notícia sobre aviação que vem lhe causando problemas. Em entrevista à rádio CBN afirmou que nunca lhe ocorreu comprar mais quatro aeronaves para o governo.

Deve ter causado confusão na cabeça de seus assessores, que uma semana antes haviam confirmado que era exatamente esse o plano do governo: comprar mais um jato, um turboélice e dois helicópteros para transporte da equipe de Beto Richa. Uma possível ex­­plicação seria o governador ter ficado intimidado com a reação popular à ideia da compra dos aviões.

De resto, na mesma entrevista, Richa ainda aproveitou para dizer que o serviço de remoção de doentes do interior por helicópteros, prometido em campanha, estaria em funcionamento. Para provar isso, afirmou que um antigo avião Sêneca do governo estaria fa­­zendo muitos transportes de órgãos para transplante. Como Sêneca não é helicóptero e órgão para transplante não é paciente, chega-se à conclusão de que a promessa ainda está por cumprir.

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Promessa

O governador, em todo caso, afirmou que cumprirá a promessa de campanha: relembre-se, seriam quatro helicópteros para fazer a remoção de doentes. Resta saber, caso eles sejam comprados, se pelo menos, seremos informados sobre o modelo escolhido. Caso contrário, o jeito será tentar fazer fotos e chamar um especialista para analisar. Como nos tempos de Stalin.