Ganhar a eleição tendo 17 partidos ao seu lado. Governar tendo chegado ao poder com o apoio de 17 partidos é outra coisa. E os partidos ainda são o de menos dentro de cada legenda, ainda é preciso lidar com as personalidades individuais, cada um com seu próprio interesse de aparecer e garantir um quinhão maior de cargos e de influência. Tudo com vistas às próximas eleições.
O governador Beto Richa (PSDB), acostumado a lidar com coligações grandes, passou pelo primeiro teste da nova gestão ao indicar o novo secretariado. Desagradou alguns, claro. O PSB de Luciano Ducci, por exemplo, ficou sem nada. Valdir Rossoni (PSDB), aliado de primeira hora, não entrou na escalação. Mas, tirando essas exceções pontuais, Richa conseguiu distribuir o bolo de maneira a deixar feliz a maioria dos aliados.
Agora, porém, a coisa muda de figura. Instalados em seus postos, os secretários começam a botar as manguinhas de fora. Uns não querem sair da mídia. Outros querem ampliar seu poder passando por cima dos colegas de primeiro escalão. Outros já tramam a eleição de 2018, quando Richa não poderá ser candidato ao governo, e se autoescalam para ter papel decisivo na disputa.
Algumas querelas parecem inevitáveis. Uma delas é a dos possíveis candidatos à sucessão. De um lado, há a vice-governadora Cida Borghetti (Pros), que tem a seu lado o secretário de Planejamento, Sílvio Barros (PHS). Um cunhado na coordenação geral do governo não é pouca coisa. De outro lado, há Ratinho Jr. (PSC), com o apoio da maior bancada na Assembleia Legislativa.
Outro possível foco de tensão: todo mundo no Palácio Iguaçu sabe que Deonilson Roldo, chefe de Gabinete e principal conselheiro político de Richa, ficou a um passo de ser escalado para a Casa Civil. Perdeu a disputa para Eduardo Sciarra (PSD). Tudo bem se o novo indicado tivesse o mesmo perfil dos antecessores, Reinhold Stephanes (PSD) e Cesar Silvestri (PPS). Com eles, Deonilson conseguia manobrar e ter mais influência.
Com Sciarra na Casa Civil, o jogo muda. Aliás, as duas coisas podem ter a ver uma com a outra. Afinal, se Sciarra, no comando político do governo, puxar para um ou para outro lado, ele pode ter peso na definição de quem poderá ser o candidato do grupo em 2018. Hoje, há quem aposte que o secretário pode trabalhar para ser o vice na chapa de Cida Borghetti. Quem ganharia com isso seria o grupo de Ricardo Barros (PP). Mas, claro, tudo isso são meras especulações.
O que há de fato é que Richa terá duas dificuldades principais a resolver nesse mandato. A questão mais urgente é a econômica. Sem conseguir ter o mínimo para pagar os fornecedores e conseguir algum investimento, tenderá a perder força, inclusive com os deputados estaduais. É por isso que Richa aposta na gestão austera que promete seu novo secretário da Fazenda, Mauro Ricardo da Costa. Mas essa é só metade da questão.
A segunda metade é conseguir domar todos os grupos e mantê-los unidos sob o seu comando mesmo com todos sabendo que, necessariamente, Richa não tem perspectiva de poder para daqui a quatro anos. O que ele terá será seu cacife político para eleger o sucessor. E, no caso de se sair bem, a possibilidade de voltar ao governo mais tarde. Mas a partir de 2018, na melhor das hipóteses, Richa será senador. E senador não tem 4 mil cargos em comissão nem orçamento de R$ 35 bilhões. Tem só um gabinete em Brasília.
Traduzindo: a partir da metade do governo, principalmente, Richa começa a ser o passado. E começa a haver a corrida para ficar do lado de quem estiver por cima, com cara de quem vai ficar com o comando do estado. É aí que a vaca pode ir para o brejo: o grupo pode se dividir para nunca mais se recompor. Richa consegue evitar isso?
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