O Brasil pode estar no rumo certo para conseguir uma vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU. Sabe-se que a aparência não é esta: a campanha por um assento entre as nações que têm direito a veto sobre guerras em todo o mundo parece, no mínimo, mal articulada. Mas há um dado que pode mudar essa visão.
Nesta semana, veio à tona a possibilidade de que podem ser brasileiras as minas terrestres "antipessoais" usadas pelo governo líbio de Kadafi na luta contra seus opositores. O Brasil, assim, estaria ajudando um ditador a, literalmente, explodir pessoas que pedem sua saída do poder. Detalhe: o Itamaraty diz que "não há dados suficientes" para saber se as minas saíram mesmo daqui.
Não é a primeira vez em tempo recente que o Brasil se meteu nesse tipo de embrulhada. Reportagem de Solano Nascimento, publicada pelo Correio Braziliense no ano passado, revelou que, dos 18 países que registraram conflitos armados em 2009, sete compraram algum tipo de armamento do Brasil. Alguns, como Sri Lanka, lançaram bombas orgulhosamente verde-amarelas sobre sua população civil.
Nascimento conseguiu dados exclusivos e raros sobre a "destruição made in Brazil", como chamou o caso. Descobriu, por exemplo, que em dez anos o país vendeu 777 toneladas de armamentos a outros países. E que os registros públicos (os poucos que existem) são disfarçados. Pode-se vender armamento pesado e registrar como "cartuchos" de munição.
O que isso tem a ver com o Conselho de Segurança? Tudo. Os cinco países que fazem parte permanentemente do órgão Estados Unidos, Inglaterra, Rússia, China e França estão sempre no topo das listas de produção de material bélico. E de exportação. Assim como o Brasil, têm discurso pacífico. Mas lucram com a guerra.
O discurso brasileiro tem sido o do pragmatismo. Coisas do gênero: se nós não vendermos, alguém venderá. O melhor, assim, seria que pelo menos o lucro com a desgraça alheia ficasse conosco, e não com outros. É o típico discurso que nos equipara aos EUA com sua invasão "preventiva" do Iraque e com a China, invasora do Tibete e repressora de Taiwan.
A presidente do Brasil sabe o que é sofrer na mão de um governo autocrático. Foi presa e torturada durante a ditadura brasileira. Seu governo começou com a promessa de que os afagos de Lula a ditadores não seriam repetidos. No entanto, na prática, as coisas não mudaram tanto assim.
É claro que um pouco de pragmatismo pode ser necessário para um país. Dificilmente alguém imaginaria que a presidente iria à China para, lá, fazer um discurso em praça pública falando tudo e mais um pouco do pessoal de Hu Jintao. Mas algumas coisas poderiam ser feitas. Uma delas, a mais óbvia, é parar de fornecer autorização para exportação de armas a países como a Líbia. Dilma não tem culpa que seus antecessores tenham autorizado vendas mas pode pará-las agora.
O Brasil tem riquezas de todos os tipos. Algumas, inesgotáveis. Outras, quase inexploradas. Não é possível que para aumentar um pouco o nosso saldo comercial ou para garantir alguns poucos empregos nossa indústria bélica é destinada principalmente ao mercado interno, e não sofreria com isso seja preciso ser assim tão cínico.
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