Olho-vivo

Sigilento 1

Discute-se no país se arquivos antigos mantidos em sigilo podem ou não ser abertos ao público. Em tese, seriam documentos históricos, que, se divulgados, poderiam conturbar as relações internacionais do Brasil ou, então, causar perigosos constrangimentos em setores militares. Contratos de publicidade que a Câmara Municipal de Curitiba firmou com duas agências, pelo jeito, têm tanto poder explosivo quanto aqueles.

Sigilento 2

A dedução é lógica: foi negado à vereadora Josete o conhecimento do teor desses contratos. Isto é, nem mesmo a um membro eleito da Câmara Municipal se dá o direito de ter acesso a um documento público com a facilidade, garantida pela Constituição, da simples apresentação de um requerimento. Não: nesse caso, disse o funcionário da Câmara à vereadora, só se seu pedido for aprovado pelo plenário da Casa. Como a maioria é controlada pelo presidente, a tendência é que nem mesmo o plenário aprove o pedido.

Sigilento 3

A abertura dos contratos poderia permitir uma investigação mais profunda: as agências são meras intermediárias da aplicação dos recursos – o dinheiro que recebem deve ser aplicado segundo critérios definidos pela própria Câmara. Em que exatamente os recursos foram usados? E quem foram os beneficiários finais dos milhões que saíram dos cofres públicos?

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Ex-vereador, ex-prefeito, ex-ministro, ex-deputado federal e ex-deputado es­­tadual, Rafael Greca transita sobre a ideia de construir um veículo monotrilho em Curitiba como um dos principais motes da campanha que já desenvolve na disputa pela prefeitura de Curi­­tiba no ano que vem.

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Ex-PDS, ex-PDT, ex-PFL, Greca se elegeu domingo passado vice-presidente do diretório municipal do PMDB. E é por este partido que, com o apoio do aliado senador Roberto Requião (agora presidente do diretório), pretende colocar seu nome na lista de candidatos, que já tem como certos os de Lu­­ciano Ducci e Gustavo Fruet.

Sempre acompanhado de sua Margarita, Rafael tem percorrido os bairros de Curitiba quase toda manhã. Revisita amigos, conversa com velhos cabos eleitorais na busca de reoganizar o PMDB na periferia – uma hegemonia que o partido perdeu desde que extinguiu os diretórios zonais há dez anos. Nessas an­­danças, Greca já vai divulgando alguns dos pontos do projeto de governo que vai defender durante a campanha.

Um deles é o tal do monotrilho – um veículos leve, rápido, de superfície e de alta capacidade que, segundo ele, pode custar um terço do preço e triplicar a extensão prevista no projeto do metrô curitibano. "Veja só: a prefeitura quer que o governo federal lhe dê R$ 2,2 bilhões para fazer um metrô de 14 quilômetros", diz Greca, calculando: cada quilômetro de metrô vai custar R$ 157 milhões.

E aí ele encaixa a ideia do mo­­no­­­­trilho, transporte adotado pelas cidades modernas (cita Du­­bai e Las Vegas como exemplo), que já nem pensam em investir em metrôs – sistema caro que pouco evoluiu desde que foi implantado pela primeira vez, em Londres, no século 19.

Segundo Greca, pelo mesmo custo do projeto para o metrô seria possível construir 65 quilômetros de linhas de monotrilho, de alcance metropolitano, quase sem custos de desapropriação: seriam usados os trajetos das antigas linhas férreas que cortam a cidade – que ficarão ociosos depois de implantado o contorno ferroviário –, assim como as margens, de domínio público, do Rio Belém. "Ao longo do Be­­lém, podemos ter um monotrilho saindo do centro de Curitiba até o Aeroporto Afonso Pena", diz ele.

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Embora tenha se afastado do grupo Lerner – em cujo berço nasceu sua carreira política – para se juntar ao do adversário histórico Roberto Requião, Rafael comunga com seu padrinho de batismo político a ideia de combater o projeto do metrô – menina dos olhos das administrações do então prefeito Beto Richa e do atual, Luciano Ducci. "É preciso discutir a cidade e pensar no que seria melhor para ela. E o metrô não é a melhor solução". Ele argumenta: 14 quilômetros correspondem a menos de 1% da extensão hoje atendida pelos expressos e pela rede local e metropolitana de ônibus. "Esse nosso metrô é uma coisa muito ridícula".

Otimista com a possibilidade de voltar à prefeitura – embora não tenha conseguido votação para se reeleger deputado estadual na última eleição – Greca diz não ter medo nem da máquina do governo que vai trabalhar por Ducci nem de Gustavo Fruet, sempre bem votado em Curitiba. "Vou vencer pelo meu projeto de renovação de Curitiba, em contraste com o modelo esgotado defendido pelos outros candidatos", diz ele.