Silenciosamente, o senador Alvaro Dias toma providências para viabilizar sua candidatura à Presidência da República. Político desde sempre, paradoxalmente ele passou a ser favorecido pelo vácuo criado pela generalizada ojeriza da opinião pública aos políticos – grande parte deles moralmente dizimada pela Operação Lava Jato.
Um a um, como num efeito dominó, vão-se esborrachando os nomes até agora considerados mais viáveis para a disputa. O trio de ferro do PSDB – partido que parecia próximo de reconquistar o Palácio do Planalto após os 13 anos de reinado petista – foi incluído na lista: o senador Aécio Neves, o ministro José Serra e o governador Geraldo Alckmin também se enrolaram nas delações da Odebrecht à Lava Jato.
Já nem se cogita da volta ao cenário de outro líder popular, o ex-presidente Lula, que frequentemente ameaçava candidatar-se outra vez ao posto. Ele e seu partido, o PT, tornaram-se alvo da repulsa do eleitorado – “privilégio” que dividem não apenas com outros políticos e siglas, mas também com as próprias instituições republicanas, cada vez mais depauperadas de valores.
Na opinião de muitos analistas, este quadro abriria a oportunidade para o surgimento de arrivistas, salvadores da pátria – um fenômeno muito parecido com o que levou os brasileiros a acreditarem e elegerem Fernando Collor em 1989, na primeira eleição direta pós-ditadura. Ou, para trazer o caso aos tempos presentes, a vitória em outubro último do empresário João Doria à prefeitura de São Paulo, um não-político que derrotou em primeiro turno uma penca de políticos tradicionais.
A possibilidade de aparecer por aí um novo messias – um novo Collor, um novo Doria – não figura no horizonte dos institutos de pesquisa nem das pitonisas de plantão. A paisagem parece ser de terra arrasada. Nela só se notam agora os escombros dos seis ministros de Michel Temer afastados por corrupção; dos presidentes da Câmara Federal e do Senado (um preso e outro réu de ação penal); de um Judiciário açodado, confuso e desacreditado... e assim por diante neste Brasil infeliz de 2016, vítima de recessão, desemprego e incertezas.
E o que o projeto presidencial do senador Alvaro Dias tem a ver com tudo isso?
Tem que, embora sendo político a vida inteira, não se acha contaminado pelo que aí está. Acredita ser um ponto fora da curva neste momento da vida brasileira. Saiu do PSDB e ingressou no pequeno Partido Verde – sigla que, é certo, não lhe dá a mesma visibilidade nacional dos tempos em que era tucano e líder da oposição aos governos petistas. Em compensação, o PV lhe assegura a condição de pré-candidato, posição que nunca alcançaria no PSDB; seria esmagado pelo “trio de ferro”.
Alvaro quer se apresentar como alternativa, uma terceira via. Por isso, diz estar empenhado, correndo o país sem alarde, para organizar o PV e dar à sigla a estrutura mínima necessária para a empreitada. O PV é um partido internacional; acaba de ganhar as eleições na Áustria, é forte na Alemanha e, nos Estados Unidos, sua candidata, a médica Jill Stein, ficou em terceiro lugar, atrás de Trump e Hillary.
O maior desafio, diz Alvaro, é fazer com que o PV deixe de ser considerado uma ong para se tornar uma legenda com projeto de poder e programa claro de governo, capaz de aglutinar outras forças políticas do país que hoje, silenciosas e insatisfeitas, estão à margem.
Alianças com partidos existentes são importantes e algumas negociações (que o senador não revela) até já estão em curso, desde que não desfigurem as causas ambientais que o PV defende. O objetivo, claro, é também ganhar tamanho, presença nacional e tempo de propaganda em tevê, não esconde o senador. Ele se deu prazo curto para cumprir esta tarefa: março de 2017.
E, se nada der certo, voltará a pensar em disputar o governo do Paraná? Resposta: “Em hipótese alguma. O candidato aqui é Osmar Dias”.
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