Olho vivo
Catolicismo 1
Não se pode afirmar que nunca antes na história desse país a Igreja Católica ou seus representantes tenha sido usada para fins eleitorais. Pelo contrário, a participação política da Igreja foi até institucionalizada sob o nome de Liga Eleitoral Católica, com grande atuação na primeira metade do século passado. Candidatos que não rezassem pelo catecismo da LEC, num país tão religioso como o Brasil e com a maior população católica do planeta, estavam praticamente condenados à derrota.
Catolicismo 2
Mesmo o ateu e depois agnóstico Getúlio Vargas, que na juventude chegara a escrever um livro sobre os males do cristianismo, teve de se render à força da Igreja para alcançar e se manter no poder. Beijava mãos de cardeais, bispos e até de curas interioranos para não cair em desgraça. Hoje em dia, é importante para os políticos aproximar-se das igrejas evangélicas, especialmente das numerosas e poderosas neopentecostais, para conquistar eleitores. Mas a Igreja Católica, embora hoje menos influente e decisiva do que foi no passado, não pode ser esquecida.
Catolicismo 3
Na última terça-feira, dia 16, o governador Beto Richa e a primeira-dama Fernanda, convidaram para almoço em palácio um grupo de padres de grande poder e popularidade em Curitiba um colégio eleitoral considerado capaz de assegurar a decisão do pleito já no primeiro turno. Dividiram o cardápio servido pela cozinha do Palácio Iguaçu os padres Reginaldo Manzotti (pároco do Guadalupe), Luiz Carlos Kleina (do Carmo), José Aparecido Pinto (tesoureiro da Mitra e diretor da Ação Social mantenedora do Asilo São Vicente de Paula e de restaurantes populares), Joaquim Parrón (provincial dos Redentoristas, que atraem milhares de fieis às quartas-feiras para a novena do Perpétuo Socorro) e monsenhor Rafael Bienarski, que responde pela Arquidiocese desde a morte do arcebispo dom Moacir Vitti, em junho passado. O arcebispo emérito Pedro Fedalto, embora convidado, preferiu fazer jejum neste dia.
Catolicismo 4
Por que esse almoço "tão católico" em véspera de eleição? Porque os padres precisavam ser convencidos a aparecer em folhetos e santinhos ao lado de Beto Richa e de, no texto, recomendar o voto nele. Fernanda Richa embora não fizesse o papel da serpente do Paraíso se encarregou de expor os motivos para que os sacerdotes se sentissem tentados, enquanto Beto Richa olhava para o teto. Kleina, Manzotti e Aparecido não teriam resistido ao sabor dos frutos que, quem sabe, poderão colher em breve.
Faltando duas semanas para a eleição, os dois principais institutos de pesquisa outra vez coincidem em suas previsões: o governador Beto Richa pode ser eleito em primeiro turno. Os índices que lhe são conferidos pelo Datafolha divulgado na quinta e pelo Ibope na sexta ultrapassam a soma dos demais candidatos, aí incluídos, além de Requião e Gleisi, também os nanicos.
No primeiro, aparece com 44% contra 41% de todos os oponentes; no segundo, com 47% contra 44%. Claro, pela margem de erro, um segundo turno ainda está no horizonte, mas as projeções indicam que, caso ocorra, Beto será igualmente vencedor.
Teria Beto Richa feito uma gestão de excelência a ponto de o eleitorado não titubear em dar-lhe um novo mandato? Ou o resultado previsto pelas pesquisas seria fruto da dificuldade dos adversários de empolgar o eleitorado? A segunda hipótese é bem aceitável.
Não se pode afirmar que Richa, ao contrário do que prometera na eleição de 2010, tenha tirado o Paraná do buraco em que o encontrou. E talvez até o tenha aprofundado, como bem exemplificam as dificuldades financeiras do estado, as falhas administrativas e suas rarefeitas obras. Mas ele tem uma explicação para o próprio sucesso: "Sou um afortunado pela sorte", afirmou na sabatina da Gazeta.
No caso, a sua sorte na eleição de 2014 foi ter como principais adversários (1) o fatigado senador Roberto Requião, que não representou nada de novo nesta disputa e (2) a senadora Gleisi Hoffmann, engolida pela rejeição nacional ao PT de que são vítimas também dez dos 11 candidatos lançados pelo partido. A única exceção é a do ex-ministro Fernando Pimentel, que parece ter vitória assegurada em Minas Gerais.
Metodologia
Ibope: 1.204 eleitores em 67 municípios, de 16 a 18 de setembro por encomenda da RPC TV. Margem de erro de três pontos. Nível de confiança de 95%. Registro no TSE com o número BR-00685/2014.
Datafolha: 1.256 pessoas em 46 municípios entre os dias 17 e 18 de setembro por encomenda da RPC TV e da Folha de S.Paulo. Margem de erro de três pontos. Intervalo de confiança de 95%. Registro no TSE com o número BR-00665-2014.
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