Tudo sobe. Por que não subiria também a tarifa dos ônibus de Curitiba? Então, aí vem um aviso que nem precisaria ser dado: a passagem custará a partir do fim de fevereiro (se não um pouco antes) pelo menos R$ 3,70 – 40 centavos a mais do que a vigente. Segundo calculam fontes da prefeitura e da Urbs, o aumento deve cobrir praticamente o mesmo índice de inflação do período. E só.
O número mais se parece com uma proposta de briga com os empresários do transporte coletivo, que falam que só a parte deles (a tarifa técnica) deveria ser de R$ 3,80. Se a prefeitura cobrar dos usuários R$ 3,70 (como imagina) e pagar para os empresários o que eles exigem, teria de dar 10 centavos de subsídio. Multiplique-se esse valor por 2 milhões de passageiros/equivalentes/dia e se verá o rombo de um mês ou de um ano. O dinheiro público que for dado para manter o transporte é o mesmo que não vai chegar para o berçário ou para capinar o mato do Centro Cívico.
Não é fácil encontrar soluções. Mais fácil é encontrar culpados. No caso da prefeitura, ela aponta para o outro lado do matagal da praça Nossa Senhora de Salete – isto é, para o Palácio Iguaçu. Veio de lá, no ano passado, a decisão de inviabilizar a rede integrada.
Criou-se o caos. Desde então, o povo paga o pato em meio à contenda entre a Urbs e as empresas de Curitiba – que esta semana provocou dois dias greve –, reaparecendo a ideia dos empresários: de sair do ramo porque já não aguentam os prejuízos.
Na prática, isso seria um rompimento unilateral do contrato firmado em 2010, que um empresário definiu como um “Frankenstein”. A prefeitura emudece. Emudece por medo ou por esperteza? Segundo diz um alto assessor, é esperteza. Se a decisão for unilateral, o município ficaria desobrigado de indenizar os empresários. Se negociar um rompimento, assumiria o risco de desembolsar bilhões.
Com isso, a tendência é a maléfica e infinita permanência do impasse e das greves sucessivas. A menos que um dia apareça uma ideia luminosa que mostre ser possível ter um sistema mais estável, socialmente mais justo e menos infenso às greves. Que já existe em outras plagas. Menos no Brasil.
O mistério do Rolex de ouro
Assim como no chassi de um carro, também os luxuosos relógios Rolex contêm um número de série, o que o torna objeto único, registrado pela fabricante suíça com o nome do comprador. Certo dia, um dos envolvidos na Operação Quadro Negro presenteou um figurão com um desses magníficos relógios. É possível que o Gaeco já esteja querendo saber em que pulso brilha o Rolex.
O deputado estava bêbado? Estava em altíssima velocidade? Bateu em outro carro e matou seus dois jovens ocupantes? Certíssimo. As informações correntes confirmam todos estes fatores. Mas também confirmam que o deputado trafegava numa preferencial e o outro carro avançou. Simples assim.
Condene-se o deputado pelas mais altas sanções que a Justiça achar cabíveis. O que não se pode é condenar o advogado (e acatado jurista) René Dotti, que vê no episódio uma questão do Código de Trânsito e não de Código Penal. O outro advogado, Elias Mattar Assad, pensa diferente, diz que é um caso de homicídio e talvez até prove que tenha razão. Mas enquanto isso, apesar da tragédia humana, são duas teses legítimas, levantadas por dois advogados brilhantes. No estado democrático de direito, tudo deve se resolver à luz da lei e da sua interpretação. E
quem se incumbe da palavra final é a Justiça.