Olho vivo

Cristianização 1

Está cada vez mais evidente a cristianização de Aécio Neves no Paraná. O termo nasceu em 1950, quando Cristiano Machado, candidato do PSD a presidente da República, foi abandonado pelo partido no meio da campanha; os pessedistas votaram em massa em Getúlio Vargas para, com isso, derrotar o brigadeiro Eduardo Gomes, da UDN. Coincidentemente, Cristiano Machado, ex-prefeito de Belo Horizonte, era tão mineiro quanto Aécio Neves...

Cristianização 2

Beto Richa contava com o apoio e prometia reciprocidade a Aécio no Paraná. Como não é bobo, garantiu também uma "beirada" no palanque do então presidenciável do PSB Eduardo Campos, que apresentava pífios índices em todas as pesquisas. Sua morte alçou a vice da chapa, Marina Silva, à condição de titular, com taxas astronômicas e imediatas de aceitação que a tornaram potencialmente capaz de enterrar o favoritismo de Dilma Rousseff, que até então parecia indestrutível. Mas o efeito colateral mais visível foi o esfarelamento da candidatura do tucano Aécio Neves.

Cristianização 3

E o resultado prático na eleição do Paraná é que Aécio passou a ser "esquecido" pelo amigo e correligionário Beto Richa. Os programas eleitorais já quase nem fazem referência ao companheiro, enquanto palavras de irrestrita simpatia passaram a ser dirigidas a Marina Silva. Milhões de santinhos com a nova "dobradinha" Beto-Marina estão sendo espalhados no estado por conta, supostamente, de uma iniciativa do PSB regional. Não deixa de ser útil e oportuna a aproximação com a neo-candidata e a cristianização do neto de Tancredo.

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Preste atenção neste cronograma:

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- 12 de novembro de 2012: os quatro governadores dos estados que compõem o Codesul – Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e Mato Grosso do Sul – se reuniram e combinaram aumentar o capital do BRDE (Banco Regional de Desenvolvimento) em R$ 600 milhões. Cada um dos três primeiros estados contribuiria com R$ 200 milhões.

- 9 de maio de 2013: Santa Catarina deposita a parcela que lhe correspondia, de R$ 200 milhões.

- 23 de dezembro de 2013: o governo do Rio Grande do Sul cumpre a sua parte.

- 19 de março de 2014: o governo do Paraná, 16 meses após ter firmado o compromisso, compareceu a uma nova reunião do Codesul para prometer que, tão logo tivesse liberado o empréstimo de R$ 817 milhões do Proinveste, integralizaria sua participação no capital do banco de fomento.

- 3 de julho de 2014: o Banco do Brasil deposita no tesouro estadual os R$ 817 milhões do Proinveste.

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- 23 de julho de 2014: o governador do Paraná assina ofício dirigido aos colegas lamentando que, por razões estratégicas, apesar de já ter recebido o dinheiro do Proinveste, não poderia ainda cumprir a palavra empenhada, e pediu prazo: afirmou que em 10 de setembro de 2014 depositaria no BRDE os R$ 200 milhões que lhe competem.

Faltam apenas três dias para o cumprimento da promessa – o que não significa, porém, que os governadores dos dois outros estados-sócios do BRDE (o MS pertence ao Codesul mas não é acionista do banco) nesta data deem por superada a amargura que sofreram durante todo o tempo de atraso do Paraná.

Pelo seguinte: a cada real dos fundos próprios do BRDE, o BNDES aporta R$ 6 suplementares para "engordar" a capacidade do banco regional de financiar a agricultura, a indústria e o comércio. Ou seja: enquanto não for confirmada a integralização do capital correspondente à parte do Paraná, o BRDE perde acesso a nada menos de R$ 1,2 bilhão do BNDES, dinheiro bastante para incrementar projetos privados de investimento a juros subsidiados. Cooperativas agropecuárias são o setor mais prejudicado. A amargura dos dois outros governadores vem, principalmente, do fato de que seus estados são inversamente beneficiados em relação ao Paraná.

Enquanto o Paraná utiliza 45% dos recursos disponíveis do BRDE, gaúchos e catarinenses têm de dividir os restantes 55% (na média pouco mais de 27% para cada um). São eles, no entanto, que já aportaram R$ 400 milhões no aumento do capital do BRDE. O que quer dizer que dinheiro gaúcho e catarinense está financiando o Paraná.

A secretaria de Comunicação do governo do Paraná garante que tudo vai dar certo: remanejamentos orçamentários já foram oficializados para permitir a liberação do recurso na data certa.

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