Olho vivo
Muitos pais
Se Gustavo Fruet tivesse perfil para se preocupar com questões menores, o tempo que ele dedicou ontem para adotar as primeiras providências administrativas teria sido desviado para conter as vaidades que pipocaram entre membros do seu staff de campanha. Por isso, Fruet preferiu não tomar conhecimento de manifestações públicas de alguns que passaram a se dizer os maiores responsáveis pela vitória que ele obteve nas urnas embora durante a campanha quase o tenham levado à derrota. É a velha história: a vitória sempre tem muitos pais, mas a derrota costuma ser órfã.
Lé com cré
Dubai não estava entre os destinos de Beto Richa quando, há duas semanas, anunciou o roteiro da viagem internacional que iniciou domingo. Do roteiro, faziam parte apenas China, Líbano e Itália, países escolhidos para "estreitar relações". Sobre a escala em Dubai não foram dadas maiores explicações nem mencionada a data em que ocorrerá, mas não deixa de ser interessante notar no dia 4 de novembro vai acontecer na vizinha Abu Dhabi uma das últimas provas de Fórmula 1 da temporada de 2012. Como Richa é notório aficcionado por automobilismo, já tem gente juntando o lé com o cré como diria o blogueiro Zé Beto.
A Procuradoria-Geral do Estado (PGE) pretende se instalar num prédio onde funciona hoje um hotel cinco estrelas, no Centro de Curitiba. O decreto que declara o edifício como de utilidade pública para fins de desapropriação, assinado pelo governador Beto Richa, leva o número 6.090 e foi publicado no Diário Oficial do Estado no dia 4 passado. O prédio é de propriedade da construtora Nova Itália Empreendimentos Imobiliários, com sede em Pato Branco (Sudoeste do Paraná) e nele explora, em sistema de franquia, o Crowne Plaza Hotel, uma das bandeiras do grupo hoteleiro internacional IHG, localizado à Rua Carlos Cavalcanti, 600.
O negócio estaria avaliado em cerca de R$ 22 milhões dinheiro que virá do Fundo Especial da Procuradoria-Geral do Estado (FPGE), criado no governo Requião para, em parte, pagar as cotas de produtividade dos procuradores e cobrir outras despesas da própria PGE em regime de gestão autônoma. Outra parte da arrecadação integra o orçamento geral do estado.
Aí vem um ponto curioso (e preocupante): no mesmo dia em que foi baixado o Decreto 6.090, foi também publicado o Decreto 6.089, pelo qual R$ 22 milhões oriundos do Fundo da PGE que tinham sido repassados à Cohapar acabaram voltando para a sua origem, isto é, para o próprio Fundo. Ou seja, ao que parece, pretende-se agora que o dinheiro antes destinado à construção de casas populares seja agora usado para comprar o prédio de luxo ambicionado pela PGE.
A coluna procurou ouvir o procurador-geral do Estado, Júlio Cesar Zem. Em dois e-mails encaminhados aos endereços pessoal do procurador e do seu gabinete, a coluna perguntou:
- O valor da desapropriação corresponde aos R$ 22 milhões que, segundo o Decreto 6.089, tem origem no FPGE?
- Tendo em vista que o edifício tem características especiais para o funcionamento de um estabelecimento hoteleiro de categoria 5 estrelas, há estimativas quanto aos custos para a adaptá-lo às necessidades da PGE ou se considera que adaptações são dispensáveis?
- A PGE pesquisou alternativas para suprir suas necessidades de nova sede?
- Do ponto de vista econômico, o investimento pode ser considerado como o mais conveniente para as finanças do estado?
Até às 20 horas de ontem, não havia chegado nenhuma resposta.
Pressa e prazo curto
Já um representante da empresa hoteleira prestou alguns esclarecimentos. Segundo Guilherme Mussi, advogado da Nova Itália Empreendimentos Imobiliários, as negociações com o governo ainda não puderam ser concluídas. Uma das razões diz respeito ao curto prazo exigido pela Procuradoria para que o hotel deixe o prédio no máximo até dezembro próximo.
Segundo Mussi, a empresa tem compromissos (inclusive internacionais) com a rede franqueadora, com prestadores de serviços (agências de reservas, por exemplo), fornecedores e, principalmente, com seus empregados. A PGE exige também que as instalações sejam adequadas para o seu próprio uso, o que significa, por exemplo, a retirada das banheiras de hidromassagem que equipam os apartamentos de luxo. São questões que não se resolvem em tão curto prazo, assinala o advogado, que complementa não haver interesse de nenhuma das partes de recorrer a meios judiciais para concluir as negociações.
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