Recolhido na chácara de Agudos do Sul, a 60 quilômetros de Curitiba, o ex-deputado Gustavo Fruet apascentava ontem suas ovelhas, respirava ar puro, comprazia-se com a paisagem bucólica e, sobretudo, estava longe de políticos e de celulares. Era o cenário ideal para dar-se ao desfrute de fazer solitárias e metafísicas considerações a respeito de seu futuro.

CARREGANDO :)

Pôs-se, então, a meditar profundamente sobre a questão que mais lhe aflige no momento: o que vale mais – as versões ou os fatos?

Homem de pensamento cartesiano, ordenou as versões e alinhou os fatos para, em seguida, colocá-los em cotejo. Com base no resultado desse cotejamento, tomaria, então, a mais grave das decisões que lhe esperam no presente momento: deve ou não sair do PSDB ou esperar que seu partido o lance candidato a prefeito de Curitiba?

Publicidade

A versão mais proeminente que ouviu nos últimos dias foi revelada anteontem pelo presidente estadual tucano, deputado Valdir Rossoni, um dos comensais do almoço que o governador Beto Richa serviu quarta-feira no palácio a Gustavo e ao líder do governo na Assembleia, deputado Ademar Traiano, degustado também por estrelas menores da constelação de conselheiros do governador.

A reunião, solicitada há dias por Gustavo, era para pedir uma definição importante – se Beto Richa estaria seguramente disposto a levar o partido a lançar seu nome como candidato ou se, como se comenta, preferiria honrar o leal companheirismo que o liga a Luciano Ducci.

Rossoni disse ter ouvido de Richa afirmação positiva. Sim, Gustavo poderia levar à frente seu trabalho de viabilização da candidatura dentro do PSDB e que, vencida essa etapa, não teria dúvidas em apoiá-lo. Logo, segundo Rossoni, se Gustavo deixar o partido não poderá alegar falta de apoio do governador ou do partido.

Se Fernanda apoia e se Beto elogia Ducci, as cartas já não estariam marcadas?

Dito assim, na aparência Gustavo não teria muito com o que se preocupar. Afinal, a mais poderosa voz do PSDB não lhe negaria apoio – embora o condicione ao sucesso do próprio Gustavo em viabilizar a candidatura dentro da legenda.

Publicidade

Nesse momento das elucubrações, os carneirinhos de Gustavo soltaram um balido estridente que o improvisado pastor entendeu como uma advertência: como atender a condição imposta por Richa se, pelo menos por enquanto, tudo leva a crer que o PSDB curitibano ainda obedece às ordens do vereador João Cláudio Derosso, que trabalha pela reeleição de Luciano Ducci, candidato de outro partido?

Esse foi o primeiro dos fatos com que o pensante Gustavo Fruet se defrontou ontem, enquanto, sintomaticamente, corria atrás de algumas ovelhas desgarradas.

Outro fato que não lhe saiu da cabeça foi a declaração, no início da semana, da secretária estadual Fernanda Richa (mulher do governador), derramando simpatia por Ducci, de quem, até, se legalmente possível, gostaria de ser vice. Fernanda estaria dizendo algo contrário ao que pensa o marido Beto? Improvável.

E mais: como explicar as seguidas aparições públicas de Beto e Luciano, com tantas e recíprocas declarações de afeto divulgadas pelos sites oficiais do governo e da prefeitura? São fatos (e não versões) que não saem das cogitações de Gustavo, que se sente tratado como uma espécie de ovelha negra dentro do rebanho tucano ao qual pertence.

"Se eu ficar esperando pela lã do PSDB, me arrisco ser tosquiado!"

Publicidade

Eis, então, que o pôr do sol se aproximou e chegou a hora de tirar as conclusões vespertinas. Gustavo fez balanço mental e verificou que as versões não se sustentam – mesmo porque, uma delas, a de Rossoni, não coincide com o que ele próprio diz ter ouvido de Richa – isto é, nada. Nada que lhe desse certeza de que o governador e o PSDB estejam comprometidos com ele. Já os fatos...

Então, pensou com conhecimento de causa próprio de um criador de ovinos: "Se eu esperar pela lã do PSDB, me arrisco ser tosquiado!"

Com isso em mente, voltou para casa à noitinha com a firme convicção de que terá de fazer o que ele não desejava: mudar para um partido que o queira candidato e, partir disso, montar uma compensadora constelação de legendas.

Muitos partidos já perceberam a oportunidade que se abre. O PDT chegou a oferecer até a presidência do diretório local para Gustavo. E, na noite de anteontem, 100 peemedebistas reunidos no diretório, com a presença de Orlando Pessuti (e ausência de Requião) proclamaram: "Volta Gustavo, volta!".

Publicidade