Mistérios insondáveis ainda rondam a repentina decisão do prefeito Rafael Greca de antecipar em um mês o reajuste da passagem de ônibus, com o agravante de elevá-la de R$ 3,70 para R$ 4,25 numa só pancada. Não à toa, passageiros reclamam do aumento bem acima da inflação num momento de desemprego brutal e acentuada queda de renda da população.
Greca dá pistas para desvendar o primeiro mistério ao, repetidamente, afirmar que “as coisas custam o que custam. Nem mais nem menos; o justo”. Entretanto, ainda sonega ao distinto público informações sobre como chegou ao valor “justo” que decretou e pôs em vigor desde esta segunda-feira (6).
Teria levado em conta estudos técnicos da Urbs, transparentes e debatidos com a comunidade, ou apenas atendeu às concessionárias que reivindicavam tarifa técnica – aquela que efetivamente entra no cofre das empresas – próxima do valor agora definido?
Segundo a prefeitura, com o aumento será possível, por exemplo, substituir até o fim do ano os 290 ônibus sucateados que rodam pela cidade. Até já foram encomendados à indústria com promessa de entrega em seis meses. Por contrato, a responsabilidade de adquirir os veículos é das empresas – logo, chegou-se a uma tarifa que tornará possível a elas cumprir a obrigação.
O primeiro sinal de que pode ter havido um acordo prévio com as concessionárias será confirmado se, em breve, elas desistirem da ação judicial, deferida liminarmente e ainda em vigor, que as desobrigava de renovar a frota. Será sintoma de que uma tarifa técnica próxima dos R$ 4,25 está de bom tamanho, inclusive para a recuperação dos alegados prejuízos que teriam acumulado nos anos Fruet.
Menos do que isso seria impossível, pois como afirmou o prefeito em sua página no Facebook, subsídio nem pensar. “A política de subsidiar o transporte com dinheiro público municipal foi anestesia que não funcionou, e apenas adiou responsabilidades.”, escreveu, contrariando a história de que a criação dos subsídios teve início em 2011, com o governador Beto Richa, nos tempos em que pretendia eleger Luciano Ducci prefeito em 2012. Esta prática terminou em Curitiba quando houve a desintegração do sistema, mas o subsídio estadual se manteve nas linhas metropolitanas operadas em caráter precário por empresas permissionárias, nunca licitadas.
Outro mistério ainda não revelado diz respeito à prometida reintegração metropolitana até julho próximo – tarefa conjunta da prefeitura de Curitiba (Urbs) e do governo estadual (Comec). Reintegração válida, porém, só tem sentido se não for apenas operacional, mas sobretudo se a tarifa for igual para todas as linhas. Tarefa que exigirá uma reengenharia financeira do sistema, já que as tarifas vigentes nos municípios vizinhos são mais altas do que a praticada em Curitiba.
Uma simples média aritmética embute duas ameaças: ou a passagem de Curitiba sofrerá novo aumento ou alguém vai ter de subsidiar a diferença. O mais provável é que a opção seja pela primeira hipótese, mas a segunda, por decisão político-eleitoral não deve ser descartada.
Há ainda mais: a reintegração também está sendo pensada com a unificação da administração dos sistemas urbano de Curitiba e metropolitano. Isto é, uma só empresa pública substituiria as duas existentes, Urbs e Comec. É por esta solução que torcem os empresários do transporte por lhes dar oportunidade de também unificar os sistemas de bilhetagem.
As linhas metropolitanas têm a sua própria bilhetagem, operada pelo consórcio Metrocard, que transfere diretamente às empresas as receitas diárias. Em Curitiba, o dinheiro dá dois passos: primeiro entra na Urbs, que depois o transfere para as concessionárias urbanas com o valor da tarifa técnica e descontadas as multas por deficiências na qualidade do serviço.
Substituindo-se o meio de transporte, vale para o futuro do transporte coletivo da grande Curitiba a frase do Barão de Itararé: “há algo no ar além dos aviões de carreira”.
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