O calendário de Curitiba foi dividido em dois períodos bem distintos: a.G. e d.G. – antes de Greca e depois de Greca. Embora tenha por base o calendário gregoriano, trata-se aqui de uma divisão política e eleitoral instituída pelo governador Beto Richa. Na era a.G. – uma espécie de pleistoceno governada por Gustavo Fruet –, o estado não conseguia fazer repasses para custeio da saúde pública de Curitiba; já no período d.G. o dinheiro flui com extraordinárias facilidade e quantidade.
No mês de janeiro a.G., que pelo calendário gregoriano corresponde ao de 2016, os repasses estaduais para o Fundo Municipal de Saúde somaram R$ 598.818,00. Já no primeiro mês de janeiro d.G. os repasses alcançaram incríveis R$ 20.530.027,00. A diferença porcentual de aumento foi de nada menos de 3.428%!
O volume de transferências estaduais para a saúde só neste janeiro d.G. corresponde a 59% de tudo quanto foi repassado durante todos os 12 meses finais da era a.G. Frise-se que do total repassado, R$ 18 milhões correspondem a verbas que se destinavam a hospitais e que foram represadas pelo governo durante o último semestre.
Esta diferença de tratamento foi bem justificada pelo governador Beto Richa ao afirmar, por ocasião de uma suposta transferência de R$ 4 milhões para compra de remédios, de que se tratava de “um gesto de solidariedade com o povo de Curitiba”. Solidariedade que só passou a existir nos primeiros dias da era d.G. Antes, embora as farmácias da rede municipal fossem deficitárias e incapazes de aplacar todas as dores da população, solidariedade não parecia uma palavra constante do dicionário.
Quer-se condenar a decisão de Richa de se solidarizar com o povo e repentinamente mandar grana alta para a secretaria municipal de Saúde? Não. Longe disso. Trata-se de uma atitude elogiável, porque aos governantes obviamente cabe a tarefa de zelar pelo bem público e atender às carências mais prementes do povo. Agiu bem o governador.
Impossível, no entanto, não ver o outro lado das coisas, isto é, o lado político. Durante a campanha eleitoral de 2016, o item que maior desgaste trouxe ao prefeito Gustavo Fruet, derrotado já no primeiro turno em sua tentativa de se reeleger, foi a acusação de precariedade na prestação dos serviços municipais de saúde. Greca aproveitou-se bem disto e escolheu o tema como prioritário em seus discursos, nos quais já anunciava que, em razão da aliança com Richa, não mais faltariam recursos para o setor.
Não deu outra. As verbas começaram a jorrar desde o primeiro dia de sua gestão. Enquanto cuidava da própria saúde internado no hospital Marcelino Champagnat, Greca assistia às providências de socorro à saúde pública e à súbita “solidariedade” que emergiam do Palácio Iguaçu.
Ação que pode ser descrita, também, como um socorro à saúde política de Richa – lamentável simbiose entre o dever de governar de olho no bem do povo e o interesse de obter resultados eleitorais pessoais.
O aumento da tarifa de ônibus, que só deveria ser definido no dia 26, foi antecipado para esta segunda-feira (6), quando passa a valer R$ 4,25 – um reajuste de 15% em relação aos R$ 3,70 cobrados nos dias úteis. Com o reajuste, Curitiba vira campeã nacional da passagem mais cara, mas sem carnaval para comemorar a alegria.
Subsistem dúvidas: 1) R$ 4,25 são o limite ou ainda pode vir mais aumento após negociação do reajuste salarial de motoristas e cobradores a ser decidido até dia 26? 2) o aumento anunciado foi da tarifa do usuário; em quanto subiu a tarifa técnica, aquela repassada pela Urbs às empresas? A prefeitura diz que o reajuste permitirá compra de novos ônibus, implantação de novas linhas e outras melhorias do sistema. Todos estes são encargos das empresas. Logo, presume-se, a tarifa técnica sobe na mesma proporção e num patamar aceitável para elas. Alegria, alegria.
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