A briga de foice que nos últimos dias travaram os principais candidatos e pré-candidatos a prefeito de Curitiba para ampliar suas alianças partidárias – e consequentemente seus tempos na propaganda gratuita em rádio e TV – pode ser irrelevante quando examinada frente a um caso antológico – aquele protagonizado pelo médico Enéas Carneiro (foto). Candidato a presidente da República por três vezes (1989, 1994 e 1998) por um partido que ele próprio fundou, o Prona, Enéas dispunha de alguns poucos segundos para passar sua mensagem que terminava com o grito do bordão “meu nome é Enéas!”.
Pois bem: foi assim, sem tempo de TV e sem apoio de outras legendas, que Enéas, na eleição de 1994, ficou em terceiro lugar na disputa presidencial, atrás de Fernando Henrique e Lula, respectivamente do PSDB e PT, rodeados de aliados. Fez quase 5 milhões de votos, bem mais do que Leonel Brizola e Orestes Quércia, também candidatos naquele pleito.
Enéas não tinha marqueteiro nem cenários. Eram apenas ele, sua careca, a barba longa, grandes óculos, uma voz esganiçada e uma mensagem nacionalista radical recheada de autoelogios. A maioria dos seus eleitores certamente o escolheu como manifestação de protesto – como se fosse o rinoceronte Cacareco, “eleito” vereador em São Paulo nos anos 50 – mas nem por isso ele deixa de ser um símbolo de que o pouco tempo não é impeditivo para se criar uma marca forte – boa ou ruim.
Então, pergunta-se: de que valem grandes tempos na propaganda? Para o candidato melhor mostrar seus próprios defeitos? Para tornar mais claro o carimbo das alianças suspeitas que firmou? Para posar de artista? Para falar de projetos mirabolantes e irrealizáveis? Por acaso não é isso que se vê nos horários gratuitos do TRE? E o que se vê depois, nos governos já eleitos, senão o descumprimento de promessas levianas que desfilaram durante minutos sem fim?
O maior tempo pode tê-los ajudado a ganhar a eleição, mas não os transformou nos melhores governantes: viraram vento.
É de matar! 1
Em 2011, quando assumiu a secretaria da Segurança como primeiro titular da pasta no estreante governo de Beto Richa, o delegado PF Reinaldo de Almeida Cesar enfrentou seu primeiro desafio: como resolver a “superlotação” de cadávares no IML. Eram, na época, 119 corpos empilhados nas câmaras frias, enrolados em sacos plásticos, a maioria sem laudos de causa mortis. Sem identificação, também não podiam ser sepultados. Algumas causas do problema: faltavam médicos legistas, equipamentos e insumos.
É de matar! 2
O quadro dantesco foi enfrentado com um mutirão interno e a cada semana 15 corpos eram retirados do IML para encaminhamento a cemitérios. Além disso, Reinaldo sacou um projeto de nova sede, elaborado no governo anterior, para construção em terreno do governo afastado do centro. Já antecipadamente otimista com o slogan “o melhor está por vir”, prometeu que a nova sede estaria pronta no ano seguinte.
É de matar! 3
O surto de otimismo do então secretário passou rapidamente e ele decidiu voltar à Polícia Federal sem poder dar início à obra. E o que mudou de 2011 para cá? O número de legistas diminuiu, o de mortes violentas cresceu, o “estoque” de cadáveres no IML subiu para 170 e a nova sede continua no papel, conforme revela reportagem desta Gazeta. Mesmo diante da interminável e caótica situação, um dos médicos do restrito corpo de legistas foi colocado à disposição do... do Tribunal de Contas do Estado, com salários pagos na folha do IML, segundo despacho assinado pelo governador publicado no Diário Oficial do Estado de 3 de junho passado. O que faz um legista no Tribunal de Contas?
Bolsonaro e mais 36 indiciados por suposto golpe de Estado: quais são os próximos passos do caso
Bolsonaro e aliados criticam indiciamento pela PF; esquerda pede punição por “ataques à democracia”
Deputados da base governista pressionam Lira a arquivar anistia após indiciamento de Bolsonaro
A gestão pública, um pouco menos engessada