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Quem sintonizou a TV Senado ontem à tarde certamente imaginou-se ter sido abduzido por seres que pilotavam uma máquina do tempo. O túnel escuro em que a máquina viajava em marcha-ré levava os passageiros a 2009... 2008... 2007... e já se aproximava de 2003, retrocedendo a cada semana para as manhãs das terças-feiras.

Havia uma razão para essa sensação de delírio, pesadelo ou alucinação que tomou conta dos telespectadores: no momento em que sintonizavam a emissora do Senado ocupava a tribuna o senador Roberto Requião, falando as mesmas coisas e com o mesmo ar de indignado vestal com que emergia na tela da TV Educativa durante os seus dois últimos mandatos.

O senador lamentava-se da cachoeira de condenações e multas determinadas pela Justiça em razão dos impropérios e ofensas que proferia semanalmente contra desafetos reais e imaginários – alguns à semelhança dos moinhos de vento contra os quais, a despeito dos conselhos de Sancho Pança, Dom Quixote investia.

Segundo o senador, cada vez que acusava uns de ladrões e outros de larápios, nada mais fazia do que cumprir seus deveres de governador defendendo o estado. Por causa disso, "ladrões e larápios" entravam na Justiça e ganhavam todas as ações por danos morais e embolsavam indenizações milionárias. Entre multas e indenizações, se somadas apenas as referências que ele próprio fez ao longo do discurso, seus gastos já teriam ultrapassado bem mais a casa do milhão.

No fundo, Requião defendia o raciocínio de que, se fez tanto em defesa do estado, ele merece, sim, a aposentadoria de ex-governador que lhe querem negar. Caso contrário, como poderá ser ressarcido daquilo que já pagou e daquilo que ainda deve?

A imprensa canalha não só não o compreende como também o achincalha, reclamou o senador. Ao final do discurso, aconselhou seus pares: "Se presenciarem na rua uma velhinha sendo assaltada, não gritem ‘pega ladrão’, pois arriscam a ser também condenados".

Uma coincidência: na mesma hora em que Requião proferia o discurso, saía outra decisão judicial: terá de pagar mais R$ 30 mil ao advogado Cid Campêlo Filho, que até já virou freguês de caderno do ex-governador de tantas indenizações que já recebeu dele. A maioria paga em dinheiro vivo.

Olho vivo

Licença 1

Ouvido ontem numa roda de deputados o seguinte raciocínio: o procurador-geral do Estado, que se candidatou à vaga de conselheiro do Tribunal de Contas, deveria pedir licença do cargo enquanto transcorre o processo de escolha. "Pode até nem ser legalmente obrigatória essa licença – argumentou um deputado – mas seria eticamente a atitude mais recomendável". Na sua opinião, os dois lados, tanto o procurador quanto os parlamentares-eleitores, ficarão vulneráveis à influência política. Os deputados porque se veem forçados a prometer apoio ao candidato e o procurador-candidato a se sentir tentado a atender os pedidos dos deputados para conquistar-lhes simpatia e voto.

Licença 2 A propósito ainda da eleição para o Tribunal de Contas: esta coluna informou ontem que o chefe da Casa Civil, Durval Amaral, era um dos signatários do Decreto 1.325, que anulou a nomeação de Maurício Requião para a vaga de conselheiro. Não, a coluna errou: Durval não assinou, ao contrário do que seria de costume. Do decreto constam apenas as firmas do governador Beto Richa e do procurador-geral, Ivan Bonilha, que em seguida se candidatou à vaga aberta.

Rapidez

Corre mais depressa do que seria normal – e quase em segredo – um processo de licenciamento do IAP para a construção de um alcoolduto que ligará as regiões produtoras de cana ao porto de Paranaguá. Técnicos do instituto dizem que áreas de preservação serão afetadas pelo projeto e manifestam estranheza em relação à inusual rapidez dos procedimentos.

Incentivo

Filho de agricultores que continuava trabalhando na roça enquanto cursava Filosofia em Toledo (Região Oeste), o deputado petista Elton Welter foi escolhido presidente do recém-criado bloco da Agricultura Familiar da Assembleia Legislativa. Já traçou a política que pretende defender: os pequenos proprietários, que respondem por 90% da estrutura agrária do estado, precisam ser incentivados a recompor ambientalmente suas propriedades e, por isso, vai propor a criação de mecanismos de incentivo para a recuperação de matas ciliares e da reserva legal.

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