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Esses dias, uns amigos me chamaram para tomar uma cerveja em um lado da cidade que não costumo frequentar. Resolvi ir de ônibus, tinha uma linha que passava perto do trabalho, não valia gastar com táxi. Depois de esperar uns bons vinte minutos, meia hora, veio, enfim, o busão. Só que tinha um detalhe: eu não sabia, mas a linha era servida com micro-ônibus sem cobrador. E meu cartão já estava esgotado. Acabei indo de táxi.

Esse é um exemplo de como uma política pública mal pensada pode afetar o dia a dia de uma pessoa. Claro, eu perdi só meia hora de cerveja e alguns reais, mas imagino que todos os dias centenas de curitibanos acabam se atrasando para chegar ao trabalho, ou compromissos importantes, porque esqueceram de recarregar o cartão. Ou deixaram o cartão no bolso da outra calça. Ou são turistas, que não conhecem essa exigência.

A política do cartão avulso foi uma sequência inacreditável de decisões mal pensadas e mal planejadas. A primeira delas foi dos vereadores, que determinaram que motoristas de ônibus não podem exercer dupla função. Até aqui tudo bem: a ideia traz um verniz de interesse público na sua concepção, a segurança no trânsito.

O problema foi decidir isso sem trazer uma solução. Afinal, o que fazer com as linhas que usam micro-ônibus? Os vereadores não apresentaram uma opção, não deram um prazo de adaptação. As empresas teriam que dar um jeito de enfiar um cobrador dentro de um veículo que já é pequeno ou a prefeitura teria que dar um jeito de que as pessoas entrassem no ônibus sem precisar usar dinheiro.

A prefeitura decidiu que, em poucos dias, quem usasse essas linhas teria que utilizar um cartão magnético, e criou um cartão avulso – que, se bem implementado, poderia ser uma boa ideia. Não foi. Implementado às pressas, o cartão está disponível em poucos lugares. Quem por acaso precisar de uma recarga imediata depois das oito horas da noite, vai ficar na mão. E, mesmo em horário comercial, certos locais fora do Centro não têm um ponto de venda em um raio de quilômetros. Pensar numa máquina automática de recarga, então...

Uma possibilidade que está longe de ser uma tecnologia de filmes de ficção científica seria colocar máquinas que aceitam dinheiro e cartão dentro dos próprios ônibus. No longo prazo, isso poderia servir até mesmo como um substituto para cobradores nos ônibus maiores, reduzindo o custo da passagem. Mas, para isso, seria necessário tempo – e dinheiro.

Pior ainda, o cartão avulso não é só difícil de conseguir, mas também traz pouca vantagem para o usuário. Na prática, é algo que você usa apenas por ter que usar, e não por oferecer alguma coisa em troca. Isso sem contar a taxa para recarregar. Para amenizar, a prefeitura chegou a anunciar que iria oferecer um preço diferente para quem usasse o cartão.

Mas eis que, terceiro ato, o Ministério Público, advogando em nome do interesse de ninguém, resolve que os preços têm que ser iguais para todos. E, como era de se imaginar, valeu o preço mais alto. A Justiça concordou com a argumentação.

Esse é um problema menor do transporte público da capital. Mas essa mesma falta de qualidade nas tomadas de decisão nos deu a trágica licitação dos ônibus, em 2010, que resultou em um aumento recorde da tarifa sem qualquer aumento na qualidade do serviço. Ou a falta de articulação entre instâncias do Estado que minou toda a integração metropolitana.

O lado do cidadão, maior interessado nas políticas públicas de transporte, acaba sendo deixado de lado por pressa, incompetência e às vezes má fé. O resultado é que, sem qualidade no serviço, quem pode arcar com o custo de uma solução privada, no caso, os carros que deixam a cidade cada dia mais engarrafada, arca. E quem não pode, fica com um serviço cada vez pior.

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