No começo de 2013, estava cobrindo uma sessão da Assembleia Legislativa e o deputado federal Osmar Serraglio apareceu para uma visita protocolar. Como a sessão estava morna, eu e outros jornalistas achamos mais interessante bater um papo com o deputado, longe dos microfones e das cadernetas, sobre a grande polêmica do momento: Eduardo Cunha.
À época, Cunha liderou uma “revolta” dentro do PMDB para se tornar líder do partido, e levou a fatura. Serraglio, hoje aliado do atual presidente da Câmara, estava no corner oposto. A dúvida era: como que esse sujeito, contra todas as poderosas lideranças do partido e os interesses do governo, convenceu a maioria dos deputados do partido a ir para o seu lado?
Com a isenção de quem perdeu a batalha, Serraglio explicou que Cunha era uma figura sui generis e trabalhava diligentemente para aumentar seu poder. Conhecia o orçamento rubrica a rubrica. Conhecia o regimento artigo por artigo. Sabia em qual porta bater para conseguir resolver cada problema, seja no governo, seja nas grandes empresas.
Entretanto, não era isso que o diferenciava dos demais. Ao contrário de outros muitos deputados ligeiros, ele teve a sagacidade de perceber que havia uma insatisfação latente da maioria dos deputados do chamado “baixo clero” contra as lideranças do Congresso. E, com isso, trabalhou no varejo para conquistar o apoio desses deputados, intermediando liberação de recursos para suas bases e outras necessidades do dia a dia de cada um.
Corta para 2015. Cunha se coloca como candidato à presidência da Câmara. Não foi um movimento tomado de supetão. Antes disso, já havia intermediado doações a deputados candidatos e construído uma base de apoio para dar sustentação a uma candidatura contra o desejo do governo recém-eleito.
O PT reagiu, mas reagiu da pior maneira possível. Primeiro, escolheu Arlindo Chinaglia como candidato. Por suas virtudes, há poucos deputados menos amados por seus pares do que Chinaglia. Ele foi presidente da Câmara entre 2007 e 2009, e, nesse período, ficou famoso por seu rigor na gestão da Casa – tanto que saiu da presidência com um “desculpa qualquer coisa” por seus constantes cortes nas mordomias dos parlamentares.
Depois, tratou de construir uma base para Chinaglia. Ao invés de jogar o jogo de Cunha, preferiu fazer política à moda clássica. Chamou os líderes do PR e do PSD, ofereceu cargos para os caciques e ignorou completamente o baixo clero. E garantiram que haveria segundo turno: pelas bancadas oficiais, Cunha tinha 215 votos, Chinaglia 180.
Como já era óbvio para quem olhava de fora, Cunha venceu de lavada. Fez 267 votos – contra meros 136 de Chinaglia. Ou seja, pelo menos 44 deputados “traíram” a orientação partidária. O resto é história.
O fato é que Cunha estava articulando contra Dilma desde 2013. E sua estratégia não era segredo nem para um repórter de política local do Paraná. Mesmo assim, o PT e o governo insistiram em uma tática sabidamente ineficiente para tentar desarmar a bomba. Não quero culpar ou desculpar ninguém, mas os próprios petistas não viram o Cunha?