"Pense num absurdo, na Bahia tem precedente", dizia Otávio Mangabeira, governador do estado entre 1947 e 1951. Pois hoje, mais de 60 anos depois, podemos sem medo de errar pensar num absurdo e afirmar que no Brasil tem precedente.
O mais recente é oficializado hoje com a posse do vice-governador de São Paulo, Guilherme Afif Domingos, na Secretaria/Ministério da Micro e Pequena Empresa servindo ao mesmo tempo a governos do PSDB e do PT, no atendimento a interesses do PSD, em arranjo nunca antes visto neste país.
Firmada a jurisprudência, damos mais um passo na direção da para evitar um termo chulo desordem geral. O episódio é rico no tocante à ausência de critérios.
Vejamos a reação dos tucanos: a propósito de "não passar recibo" decidiram amenizar a reação. O governador Geraldo Alckmin cumprimentou a presidente Dilma Rousseff pela excelente escolha, o senador Aécio Neves corroborou os elogios a Afif, alfinetou Dilma criticando seu "governismo de cooptação" e sobre a manobra do PSD preferiu nada comentar.
Isso a despeito de ter avaliação negativa (para dizer o mínimo) a respeito da atuação política do ex-prefeito Gilberto Kassab.
Quais as intenções por trás desses gestos? No caso de Alckmin a ideia é não criar confusão com ninguém porque tem uma reeleição a ser disputada. Tampouco pretende se estressar com o PT porque digamos que não chorará lágrimas de esguicho se Dilma for reeleita em 2014. O caminho fica livre para 2018.
Uma razão para a resistência da seção paulista em relação à candidatura presidencial de Aécio Neves que, se vitorioso, concorreria a novo mandato quatro anos depois.
Já o mineiro não pesou a mão nas críticas porque seu foco é a oposição ao PT e, além disso, não quer atritos explícitos com o PSD a fim de não prejudicar a possibilidade de alianças com o partido de Kassab nos estados onde precisará de palanques substantivos se levar adiante a candidatura à Presidência.
Ou seja, as ambições dominam as convicções. E não se diga que os tucanos sejam os únicos. Mestre na matéria mesmo tem se mostrado o PT. Cobra fidelidade dos aliados, mas aceita de bom grado, ou por outra, tira proveito da infidelidade alheia.
Exemplo: a ofensiva para desqualificar a figura do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, perante o eleitorado, é chamá-lo de traidor. Conferir caráter de traição ao desejo dele de construir uma candidatura à Presidência e tomar um rumo político independente do PT.
Campos seria desleal. Mas os petistas não acham que transitam no terreno da deslealdade quando criam um ministério para levar ao governo um vice-governador de partido antagônico.
Fazer oposição hoje na concepção do PT é sinônimo de golpismo, uma iniquidade.
Mas, quando se trata de robustecer o campo governista, qualquer indignidade é válida.
Fazendo uma condenável concessão ao cinismo exacerbado, poder-se-ia dizer que se a falta de regra é a regra que o vale tudo valha para todos. Mas depois não reclamem quando a sociedade lhes der as costas, farta dessa anarquia moral.
Inaceitável é que o PT se considere sujeito passivo das adesões que recebe, inclusive porque elas se dão mediante o emprego de métodos nem sempre lícitos ou legítimos de atração.
Inconcebível não é mudança de posição, mas a ideia de que ela só possa ocorrer em sentido único. É certo cooptar velhos inimigos ao custo do uso do aparelho de Estado, mas é errado que aliados deixem de concordar com o rumo do governo e as práticas do partido.
Nesse cenário se desenvolve o teatro de absurdos para os quais já se fixaram os mais disparatados precedentes.
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