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A entrada de 14 novos vereadores na Câmara Municipal de Curitiba traz a esperança de que ocorra a renovação nas práticas da Casa. O Legislativo necessita urgentemente ser mais aberto, mais transparente, além de mais democrático e colaborativo. Esse cenário não é viável se os parlamentares prosseguirem se comportando como se fosse desnecessário interagir com a sociedade.

Para tornar a Câmara conectada ao que há de mais moderno no Século 21 é preciso que seus integrantes aceitem uma mudança radical. E o melhor modelo mental para isso é aquele apresentado no hexagrama 61 do I-Ching, que se chama Verdade Interior.

Esse hexagrama, composto pelos trigramas Vento sobre Lago, descreve uma situação de receptividade interna que exerce uma influência exterior através da suavidade. Aplicado à Câmara e aos vereadores, isso significa abertura para, antes de tudo, ouvir a sociedade e entender suas demandas.

Essa disposição em ouvir, sem preconceitos ou interesses, é a condição base da confiança mútua. É ela que vai possibilitar o sucesso, porque, quando há uma escuta verdadeira do outro – livre de paixões ou segundas intenções – passa-se a compreender a pessoa, suas dores e suas necessidades, assim como também sua sabedoria.

Verdade Interior, portanto, não significa ter opiniões formadas e a rígida crença de que elas estão sempre certas. Aliás, o mundo está hoje cheio de pessoas infestadas de convicções nocivas a uma sociedade plural. O hexagrama demonstra que a sabedoria está na conduta exatamente oposta a essa petulante postura dos gênios-salvadores que têm toda a verdade dentro si.

Verdade Interior ocorre quando a gente se esvazia dos preconceitos e opiniões e passa a perceber o outro. Ela se manifesta na empatia. E para a Câmara isso significa criar diversas formas para que a sociedade possa participar da vida cívica.

A sociedade do Século 21 demanda do Legislativo ser inserida nos processos decisórios, por meio de discussões verdadeiras sobre orçamento – não apenas se consultada sem qualquer possibilidade de real intervenção, como ocorre nas fictícias audiências públicas de hoje.

Ela tem reiteradamente demonstrado interesse em discutir mais e com melhor qualidade os projetos de lei que passam pela Câmara, inclusive por meio de ferramentas digitais, como o Politikei (www.politikei.org) está aí para provar.

A sociedade há muito tempo reivindica também que todos os dados municipais, inclusive aqueles de posse do ICI, sejam liberados em formato aberto para que a comunidade hacker-ativista possa criar ferramentas que auxiliem a vida do cidadão. Não se trata de fornecer informações que violem a privacidade dos cidadãos, mas daquele enorme conjunto de dados úteis para fazer Curitiba entrar na era das cidades inteligentes.

Hoje, em praticamente tudo o que foi dito acima a Câmara faz o oposto. Os vereadores resistem em ser modernos. Na linguagem do Taoísmo, corrente de pensamento que permeia o I Ching, eles “opõem resistência ao fluxo”, ao se colocar como um obstáculo à ampliação da transparência e da participação da sociedade.

Se os parlamentares quiserem que a Câmara seja verdadeiramente democrática é preciso que a tornem um lugar em que ideias, projetos e dados são discutidos, trabalhados e compartilhados em conjunto com sociedade.

Verdade Interior, portanto, é uma forma de preencher a Câmara com a inteligência coletiva da cidade, na medida em que o Legislativo se abre para ouvir, processar as opiniões e oferecer novas formas de participação ao cidadão. Se não opuserem mais resistência ao fluxo de demandas da sociedade, Verdade Interior será uma forma de revitalizar uma instituição que já teve mais prestígio perante à população.

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