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No tempo em que nem se falava direito em sustentabilidade, Curitiba ficou conhecida como a “capital ecológica”, por, entre outras coisas, mobilizar as pessoas a separar o lixo e facilitar o processo de reciclagem. Hoje o conceito de cidade sustentável é muito mais abrangente – fazem parte dele fatores como equilíbrio fiscal, aumento de receitas municipais, investimentos e projetos de desenvolvimentos ágeis, uso adequado do espaço público, boa infraestrutura, consumo de energia e emissões muito inferiores às atuais, alta ou crescente qualidade de vida e igualdade social.

Atingir esse cenário é uma tarefa enorme que se tornou questão de vida e morte para os grandes centros urbanos. Dada a complexidade das cidades, o desafio para a sustentabilidade passa por reconhecer, em primeiro lugar, que as soluções não se darão por modelos mentais ou intuição de gestores ou burocratas que acreditem ter uma extraordinária capacidade para resolução de problemas.

No texto “Comportamento contraditório dos sistemas sociais”, Jay Wright Forrester explica que gestores que apostam apenas no intelecto humano acabam por selecionar políticas públicas equivocadas que, no longo prazo, trazem resultados opostos daqueles desejados. Portanto, sugere ele, é necessário usar modelos dinâmicos computadorizados, que possam dar conta da complexidade dos sistemas sociais.

Em segundo lugar, é preciso ter a clareza de que governos desempenham papel fundamental nesse processo. Isso está demonstrado em um estudo conduzido por Craig A. Stephens e outros três consultores da Greenwood Strategic Advisors AG. A pesquisa “Inovando e Inventando Cidades Sustentáveis: Um conto de três incongruências” foi apresentada em julho deste ano em Delft, na 34.ª Conferência Internacional da Sociedade de Sistemas Dinâmicos, e traz uma simulação feita por computador para responder a seguinte pergunta: até que ponto Chicago poderia progredir como cidade sustentável em um período de teste de 12 anos?

O estudo levou em conta cinco modalidades de investimentos em infraestrutura e duas mudanças de políticas públicas, fundadas em questões urbanas fundiárias e tributárias. A conclusão dos pesquisadores é que os esforços de governos para tornar a cidade sustentável são retroalimentados por novas ações de todos os agentes econômicos, gerando um círculo virtuoso de sustentabilidade. Ela passa a atrair mais investimentos em várias áreas – tanto do setor público quanto do privado – que aceleram o movimento em direção ao equilíbrio sustentável.

Da mesma forma, dizem os pesquisadores, políticas públicas que tornem as cidades menos sustentáveis acabam gerando mais investimentos que degradam o meio ambiente. Portanto, como o aumento das ações de sustentabilidade tendem a tornar a cidade sustentável, é imprescindível que o tema seja colocado na pauta de prioridades da próxima administração da capital do estado.

Há um detalhe, entretanto, alertam os autores, que pode fazer toda a diferença. Stephens e seus colegas citam no estudo uma iniciativa inovadora que está sendo conduzida por Londres e Boston no uso de modelos dinâmicos computadorizados. Eles explicam que a partir de 2015 essas duas cidades começaram a construir políticas de sustentabilidade, com base em sistemas dinâmicos que sejam cocriados em colaboração com diversos agentes da sociedade organizada. Os pesquisadores consideram que a experiência dos diversos atores torna a abordagem única para beneficiar toda a comunidade, trazendo clareza e racionalidade para todo o processo de construção de políticas públicas. Um desafio e tanto, diga-se, um belo exemplo, a ser seguido por aqui.

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