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Assinaturas para o "recall"
A instituição do recall instrumento pelo qual os cidadãos podem decidir pela revogação do mandato de ocupantes de cargos públicos mediante uma "deseleição" foi bem recebida pelos leitores. Tanto foi aceita, que o leitor Diego Adalberto criou uma "petição pública" em apoio à medida, que pode ser assinada na internet.
Regalia inaceitável
O Senado aprovou uma benesse para ex-senadores e viúvas de ex-senadores. A absurda cota anual de para tratamento médico ou cirurgias que eles têm direito, poderá ser acumulada até o valor de R$ 96 mil se não for usada em sua totalidade nos três anos anteriores. Atualmente ex-senadores e viúvas têm direito ao ressarcimento de R$ 32 mil em despesas com saúde. Esse benefício não faz o menor sentido existir. Pelo menos em um país republicano. Já numa capitania hereditária...
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Em "O cão dos Baskerville", obra famosa de sir Arthur Conan Doyle, Sherlock Holmes sintetiza o método dedutivo que utiliza para desvendar crimes. Ele diz que os cães são o reflexo do dono. Assim, homens taciturnos têm cães sorumbáticos, homens perigosos têm cães agressivos. Partindo de indícios, o detetive consegue descobrir a verdadeira natureza das pessoas. O mesmo método pode ser usado para descobrir a visão que dirigentes de uma instituição têm sobre o papel do Estado e o uso dos bens públicos.
Por meio de indícios, é possível descobrir se os agentes políticos defendem visões em favor da sociedade ou em favor de uma elite minoritária que comanda o Estado. E o melhor indicativo do momento é a forma que tem sido conduzida a polêmica sobre a divulgação de salários de servidores públicos, iniciada desde que passou a valer a Lei de Acesso à Informação Pública.
O exemplo mais recente é o do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), que na última terça-feira mostrou sua incapacidade de se posicionar como órgão republicano, progressista e transparente, ao entender que os diferentes órgãos do Ministério Público (MP) não estão obrigados a individualizar os nomes dos servidores públicos junto com o salário que recebem. A justificativa para a não divulgação é sempre a mesma o servidor público teria sua intimidade exposta. Porém, o Supremo Tribunal Federal (STF), o Superior Tribunal de Justiça (STJ), o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) entendem que essa é uma posição completamente equivocada.
O CNJ ordenou os tribunais a divulgar os salários de todos os funcionários públicos. A razão é que o STF já decidiu isso, em um caso paradigmático de servidores públicos de São Paulo. Tanto o STF quanto o STJ já decidiram que o cidadão é, em última análise, o guardião das instituições e tem o direito de controlá-las, o que inclui saber quanto os servidores ganham. Logo, não há controvérsia jurídica. O que há é uma tentativa vã de resistir à transparência. Essa resistência vai ser dissipada assim que houver uma decisão do STF com efeito extensivo à toda a administração pública.
Mas uma decisão dessa natureza não deveria ser necessária para gente que conhece o Direito, gente que tem o dever de proteger a sociedade. Os "fiscais da lei", como são conhecidos os membros do Ministério Público, deveriam estar na linha de frente, para fazer valer o entendimento já exposto pelos tribunais superiores.
O maior problema da decisão do CNMP é que, ao não obrigar os órgãos do Ministério Público a divulgar nominalmente os salários dos seus funcionários, dificilmente os "fiscais da lei" irão pedir ao Poder Judiciário que outras instituições façam o mesmo. E então a sociedade fica numa situação péssima. O órgão que deveria fazer cumprir a Constituição, mesmo conhecendo o claro posicionamento do STF, do STJ e do CNJ, resolve deixar em aberto uma situação que contraria o princípio republicano da transparência. Nesse quadro, a quem a sociedade poderá recorrer, senão a ela mesma?
Voltando a Sherlock Holmes. A decisão do CNMP é um indício de que o conselho não está alinhado às teses mais progressistas em matéria de transparência pública, nem está disposto a encampar voluntariamente a posicionamentos já expostos judicial e administrativamente pelo STF, STJ e CNJ. É elementar. A decisão do CNMP foi um desserviço à sociedade.
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