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Paz sem voz é medo

Carlos Souza enviou e-mail a respeito do debate sobre segurança pública na campanha da GRPCom "Paz sem Voz é medo": "Este movimento é até bonito. Contudo, a violência é apenas um dos reflexos da inoperância da população e seus líderes. Tentar resolver um só problema é tapar o sol com a peneira". O leitor tem razão quando afirma que é necessário levar em conta aspectos sociais e políticos. Assim, a questão que fica é: como ter sucesso com a campanha e reduzir a violência?

Mande e-mails (rhodrigodeda@gmail.com), publique no Twitter (#ocorodamultidao) ou no Facebook (digite o Coro da Multidão na barra de busca).

Após acusações de ter plagiado a tese de doutorado, o que lhe rendeu o apelido de "Barão do Copia-e-Cola", o ministro da De­­fesa da Alemanha, Karl-Theodor zu Guttenberg; renunciou ao mandato, em fevereiro deste ano. Para os alemães, suspeita de plágio é suficiente para a renúncia de ocupante de cargo público. Já entre nós, tudo é diferente. O presidente da Câmara de Curitiba, João Cláudio Derosso (PSDB), se vê neste momento acusado de ilegalidades na assinatura de contratos de publicidade do Legislativo local, mas não parece pretender deixar a direção da Casa. Ao mesmo tempo, poucas são as vozes que se somam à da vereadora Renata Bueno (PPS) para pedir o afastamento temporário do tucano da direção da Câmara até que tudo se esclareça.

De onde decorrem essas diferenças de postura entre Alemanha e Brasil? A resposta é óbvia: da nossa falta de participação e de cultura política. Esse nosso déficit cultural é tão evidente que aparece inclusive no índice de Democracia de 2010, publicado pela Unidade de Inteligência da The Economist. Quando se trata de participação e cultura política, o Brasil perde de lavada da Alemanha (veja quadro).

O comportamento político de um país é reflexo da cultura de participação de seu povo. Na Alema­nha, a simples suspeita de plágio faz com que governantes se sintam desconfortáveis para continuar ocupando cargos públicos. Lá, a sociedade não tolera nem mesmo a suspeita de desvios "éticos".

Em democracias maduras o procedimento padrão é abrir investigação e o político se afastar do cargo até se esclarecerem os fatos. Trata-se de cultura republicana, na qual o interesse público (no caso, de resguardar o patrimônio da sociedade) se sobrepõe ao interesse pessoal do político (de permanecer no cargo).

No Brasil, mesmo diante de suspeitas de ilegalidades, a tendência é dos representantes silenciarem, aproveitando-se da tolerância e do desinteresse da sociedade a respeito dos negócios da vida pública.

Pelo andar dos acontecimentos, não se espere que a Câmara resolva a crise na qual começa a se envolver. Os vereadores, por mais que alguns deles possam ter boa vontade, dificilmente vão empreender uma luta fratricida contra Derosso. O mais provável é que, o assunto "esfrie" e eles retornem a fazer o de sempre, atribuir nomes a ruas, conceder títulos honoríficos e declarações de utilidade pública. As mudanças, se vierem, vão decorrer da pressão que a população passe a exercer sobre seus representantes. Como se sabe, estamos longe de ser uma Ale­manha, mas ao menos poderíamos ter mais cuidado em relação às suspeitas de irregularidades envolvendo recursos públicos.

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