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O bairro da Vila Pompeia, em São Paulo, vive desde fevereiro deste ano um interessante processo de construção coletiva. Um concurso de ideias em que as pessoas inscreveram projetos para resolver problemas locais mobilizou cerca de 500 moradores, que se juntaram para discutir, elaborar propostas e desenvolver atividades que melhorem a qualidade de vida no bairro. O concurso "A Pompeia que se quer", promovido pelo Instituto Seva – Inteligência Coletiva para Soluções Públicas, terminou faz três meses e as propostas dos moradores estão sendo formalizadas em um documento, que será levado para discussão na Câmara dos Vereadores de São Paulo e na subprefeitura da Lapa. Esse documento traz um mapa do bairro em que se pode visualizar as propostas vencedoras.

"É o mapa dos sonhos", afirma Rodrigo Bandeira, diretor-executivo do instituto. O concurso faz parte do projeto "Cidade Democrática", uma plataforma colaborativa criada pelo Instituto Seva, com o objetivo de permitir que a sociedade possa construir soluções para o desenvolvimento local. Os recursos necessários para realizar o mapa dos sonhos da Vila Pompeia não foram exorbitantes – cerca de R$ 30 mil obtidos via financiamento coletivo pelo site Catarse e o trabalho de cinco integrantes do instituto na organização de oficinas, nas reuniões com moradores e no gerenciamento da ferramenta social on-line que possibilitou a discussão das propostas em rede (www.cidadedemocratica.org.br).

Os resultados do concurso já começam a surtir efeito na geografia do bairro. Uma das principais propostas – a criação de hortas comunitárias – já está sendo implementada em terrenos vagos. E a revitalização da Praça Homero Silva não precisou esperar a intervenção do poder público. Todo o fim de semana a comunidade organiza um festival na praça, com aulas de Tai Chi e outras atividades. Os prêmios para as propostas vencedoras podem ser simbólicos, como a inclusão das iniciativas no "mapa dos sonhos", mas podem também se traduzir em "recompensas materiais", como brindes oferecidos por comerciantes do próprio bairro.

De baixo para cima

A filosofia de trabalho de Bandeira e sua equipe é instigante. Segundo ele, não é responsabilidade dos governos saberem o que deve ser feito para melhorar a qualidade de vida local. Frequentemente, diz Bandeira, os administradores públicos não sabem o que fazer. "É nossa responsabilidade [da comunidade] saber o que deve ser feito", explica. Essa abordagem inovadora permite que as mudanças ocorram "de baixo para cima", legitima as intervenções propostas e cria o vínculo dos cidadãos com o bairro. E mais. É de fácil e barata replicação.

Desde que a era da informação passou a se consolidar no Brasil os governos têm se tornado um obstáculo ao desenvolvimento. Restringem o acesso à informação pública, impedindo que se libere a energia criativa da sociedade (quantos e quais são os bancos de dados públicos atualizados e disponíveis pelos governos da capital e do Paraná?). Consideram que não precisam discutir as possibilidades de desenvolvimento local e realizam suas intervenções de cima para baixo, sem a participação de outros atores.

A função do governo

Mas os governos podem ter outro papel. Podem se tornar facilitadores e indutores de desenvolvimento, por meio de incentivos, planejamento de longo prazo, liberação de informação pública para uso social. Podem promover a conexão entre empresas, entidades do terceiro setor e moradores. Podem também aceitar ser parte da solução, em vez de prosseguir numa estratégia que muitas vezes tem demonstrado ser insuficiente.

O concurso "A Pompeia que se quer" é um exemplo inspirador de como desenvolver um bairro a partir das demandas de seus moradores. A transformação ocorre de um conjunto de esforços coerentes e direcionados dos diversos agentes econômicos e sociais que compõem a comunidade – empresas, organizações públicas ou privadas e, principalmente, pessoas. Que bairros de Curitiba estariam dispostos a criar seus mapas dos sonhos?

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