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Imagine um ônibus de 48 lugares adaptado com webcam, conexão 3G de internet, GPS e infestado de de­­senvolvedores de programas de computador, jornalistas e gestores de informação, percorrendo cidades em todo o Bra­­sil, a fim de disseminar a cultura de trans­­parência pública e fiscalização do Estado. Isso está prestes a se tornar realidade. O web-ativista Pedro Mar­kun, líder da comunidade Trans­­parência Ha­­cker, está lan­­çando o projeto Ônibus Hacker.

Para viabilizar a compra de um ônibus usado, a ideia é le­­vantar R$ 40 mil por meio de contribuições voluntárias na in­­ternet. Assim, a partir de ho­­je, Markun publica o projeto Ôni­bus Hacker no site Catarse (http://catarse.me). O Catarse é uma fer­­ramenta-web colaborativa, pela qual as pessoas po­­dem contribuir doando recursos para a realização de projetos individuais ou de organizações. Os apoiadores receberão recompensas simbólica, que vão desde adesivos e nomes na lista de apoiadores, para doações de pequeno valor (R$ 10 a R$ 50), até uma visita na cidade de qualquer apoiador que efetuar doações acima de R$ 5 mil.

Confiante, Markun acredita que até o final do primeiro se­­mestre será possível levantar o dinheiro necessário para comprar o ônibus e iniciar as modificações necessárias para colocá-lo na estrada e iniciar a disseminação de cultura de uso de dados públicos no país. "Estou otimista e ansioso. Só a Trans­parência Hacker tem mais de 500 membros. Mas não sei se é viável porque depois de comprado o ônibus vamos fazer uma série de modificações in­­ternas, como colocar tecnologia de modem 3G e GPS."

Markun pretende visitar pequenos municípios do país a fim de promover o trabalho que a Transparência Hacker faz, com o uso de informações governamentais, promovendo ações que demonstrem a importância de tornar os dados públicos abertos para utilização da sociedade. O termo ha­­cker, usado por eles, não tem o significado atribuído pelo senso comum – de criminosos que quebram códigos banários ou roubam segredos de Estado, mas de indivíduos que elaboram e modificam dados públicos, atribuindo novas funções para essas informações em prol dos interesses da sociedade.

Além de promover eventos vinculados a análise de dados públicos e fiscalização, Markun explica que a comunidade pretende também estimular as populações dos municípios visitados a realizar discussões em praça pública, que culminem em projetos de lei de iniciativa popular para atender as necessidades locais.

Uma das cidades do Paraná que devem ser visitadas é Pi­­tangueiras. O motivo: quando esteve em Curitiba neste mês, no Encontro Internacional de Cidades Inovadoras, Markun ficou sabendo, em uma palestra, que os cerca de 2,8 mil habitantes de Pitangueiras têm acesso à internet gratuito, por meio de algumas torres de transmissão. "É um prato feito. Simpa­tizei com a ideia de acesso gratuito, com certeza Pitangueiras será um dos destinos do Ônibus Hacker."

Tradição e subversão

Numa primeira análise pode não parecer que essa seja uma maneira de fazer política. Pensar dessa forma é um engano. O que Mar­kun e a comunidade Transparên­cia Hacker estão fazendo é subverter a lógica tradicional para fazer política de um jeito diferente. Para os ativistas da comunidade, o Ônibus Hacker está inserido no contexto da autonomia de ação do grupo, preocupada em divulgar dados públicos e em fiscalizar a atuação governamental, sem depender do Estado.

Enquanto a Transparência Hacker faz política da transparência pública, o principal debate do momento é o espetáculo de crescimento do patrimônio do ministro Antonio Palocci nos últimos quatro anos. E os políticos tradicionais se mostram in­­capazes de lidar com o problema. Oposicionistas acusam Palocci de tráfico de influência e reabrem a discussão sobre a regulamentação do lobby. De­­fensores do governo preferem declarar apenas que "o episódio está sendo politizado" e que o ministro dará todas as explicações necessárias. Criação de lei ou negação do problema são falsos remédios, placebos, cujo único efeito é proporcionar à sociedade a ilusão da mudança.

Ações como a do Ônibus Ha­­cker, num longo prazo, podem surtir mais efeito para a mudança das instituições que o modelo dos políticos tradicionais. Pois estão lidando com uma nova forma de exercer a cidadania, criando uma cultura de participação por meio de vigilância e controle das instituições, bem como pela apropriação de dados governamentais pa­­ra uso de interesses da sociedade.

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